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Papa Francisco: 10 anos de pontificado

Papa FranciscoPapa Francisco chega aos 10 anos de pontificado: a fraternidade humana, a atenção à família, a ecologia integral, o combate aos abusos na Igreja, a presença na sociedade e uma nova perspectiva para os cristãos leigos, temas de gestos e ações.

Em 13 de março, o Papa Francisco completou 10 anos de pontificado. Nessa década, Francisco tem marcado a realidade com sua presença frente aos desafios no interior da Igreja e às mudanças e conflitos que se manifestam no mundo. A partir dos gestos e dos processos que leva adiante na Igreja, e também dos documentos que produz, tem anunciado o Evangelho e convidado à fraternidade, à proximidade e à ternura, a exemplo de Jesus, como ele mesmo costuma dizer.

Dentre todas as realidades nas quais a Igreja toca com sua presença, algumas foram escolhidas para serem destacadas neste momento em que Francisco chega aos 10 anos de pontificado: a fraternidade humana, a atenção à família, a ecologia integral, o combate aos abusos na Igreja, a presença na sociedade e uma nova perspectiva para os cristãos leigos.

Fratelli tutti

Um dos marcos do pontificado do Papa Francisco foi a oferta à humanidade da encíclica Fratelli tutti, documento que apresenta o desejo de que, como humanidade, “possamos reviver em todos a aspiração mundial à fraternidade”. Para o subsecretário adjunto de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Marcus Barbosa Guimarães, a carta encíclica “é um grande presente do Papa Francisco para a Igreja e para a nossa humanidade”.

“De modo especial, entre os inúmeros pontos, as inúmeras contribuições que a Fratelli tutti nos traz, eu destacaria duas chaves que parecem centrais: a primeira, como lembra o Papa: se quisermos viver a fraternidade, devemos reconhecer a verdade fundamental que Deus é nosso Pai. E se Deus é nosso Pai, somos filhos e filhas, todos, sem distinção, e somos irmãos e irmãs. Essa é a raiz, é a verdade central. É a certeza que fecunda o compromisso, o dom da fraternidade”.

“A segunda inspiração que me vem dessa carta, ao lê-la, é o que o Papa Francisco nos diz que precisamos recomeçar. E se vamos recomeçar a reconstrução da fraternidade,de um modo artesanal… devemos recomeça-la a partir dos pobres, para que ninguém fique de lado”.

Família

A realidade da família tem sido outro destaque no pontificado do Papa Francisco. Foram duas assembleias sinodais, uma exortação apostólica, um ano temático e dezenas de catequeses sobre o tema.

“Nesses 10 anos de pontificado, temos muito que agradecer ao Papa Francisco pela sua dedicação e o seu amor pela família. Com o Sínodo, trouxe a família para o centro da atenção pastoral, um olhar para um modo de ser Igreja que é como a família: de corresponsabilidade, de cuidado, de amor, de ternura, de gratuidade”, comentou o bispo de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão para Vida e a Família da CNBB, dom Ricardo Hoepers.

Para dom Ricardo, a Amoris Laetitia “veio confirmar o trabalho que já vinha sendo feito pela Pastoral Familiar” e trouxe para os setores inspirados na Familiaris Consortio, de São João Paulo II, “um ar de renovação, uma motivação ainda maior para cuidarmos das fragilidades das famílias”.

Ecologia Integral

Francisco deu especial atenção ao cuidado da casa comum nesses primeiros anos de pontificado. Marca disso foi a encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum. A leiga Patrícia Cabral, que faz parte das articulações da Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), do Laicato, e do Comitê Repam no Regional Norte 1, aponta como o “grande diferencial” a proposta da reflexão do tema da ecologia integral com a encíclica Laudato Si’ “que, aqui no Brasil, casou com a Campanha da Fraternidade dos biomas e “fez com que a gente pudesse refletir mais sobre a maneira como nós cuidamos dessa casa comum, e entender a nossa pertença a esse corpo, que não estamos isolados”.

Para ela, essa ideia de pertença favorece a compreensão da necessidade de cuidar. “Não é simplesmente não cortar as plantas, mas renovar aquilo que está sendo destruído de outra forma”, pontua.

Presença na sociedade

O arcebispo de Goiânia (GO), dom João Justino de Medeiros Silva, destacou a experiência de cuidado com a vida da Igreja e a relação com a sociedade durante o pontificado de Francisco. Sobre a presença na sociedade, ele destacou que o Papa tem contribuído com diversas abordagens, como o cuidado e o zelo com a educação na proposta do Pacto Educativo Global; o cuidado com o tema da ecologia, “com a sua belíssima encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum”; e a Economia de Francisco, “proposição que interpela a economia, a partir da participação de jovens”.

“Esses três temas são muito interessantes, poderíamos citar tantos outros, mas creio que são de uma importância muito grande para pensar a presença da Igreja na sociedade”, comentou dom Justino.

Leigos

Francisco tem marcado a Igreja com um novo impulso ministerial para os leigos, de forma especial para as mulheres e, com a proposta do Sínodo, propõe uma nova dinâmica nas relações entre as diversas vocações.

Marilza Schuina, membro do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, avalia que o Papa Francisco “nos chama a uma Igreja em saída, uma Igreja-povo de Deus, onde todos e todas sejam sujeitos da evangelização”. Em relação aos cristãos leigos e leigas, Marilza considera que Francisco “vê e espera um laicato maduro, capaz de discernir sobre os sinais dos tempos, em comunhão com a sua comunidade, buscar o melhor caminho, um laicato que assuma a vocação no mundo, na história, um laicato capaz de semear, trazer os sinais do Reino da justiça, do amor e da paz”.

“Francisco, nessa dimensão da Igreja em saída, fala de um laicato em saída, que ofereça à Igreja, um novo modo de ser Igreja, de ser presença em todos os lugares onde ninguém mais chega, onde ninguém mais vá ou aonde o padre, o bispo, até o Papa pode ir, mas, nesses lugares, o leigo e a leiga não vai, ele está lá, ele vive lá, ele mora lá. Ele, portanto, é sinal desta Igreja presente no mundo”, comenta.

Marilza acredita que permanece um desafio à questão das mulheres, ao qual o Papa Francisco tem se mostrado sensível, “para que cada vez mais sejam reconhecidos os direitos da mulher na Igreja, a estar nos espaços de decisão, a ter seu lugar reconhecido efetivamente”.

Prevenção aos abusos

A presidente do Núcleo Lux Mundi, Eliane De Carli, comanda uma das estruturas na criada pela Igreja no Brasil cuja atuação tem sido considerada delicada, mas essencial para combater a chaga dos abusos na Igreja. O escritório é responsável por assessorar as dioceses e entidades religiosas na implementação de serviços de prevenção e proteção, conforme estabelecido pelo Papa Francisco.

“A gente avalia [a criação de iniciativas de prevenção e combate aos abusos] como um momento bastante especial para a Igreja porque ele traz a questão de uma mudança de paradigmas, no sentido de trabalhar com transparência, com cuidado, com a proteção e a prevenção no caso dos abusos”, disse Eliane.

Fonte: Vatican News e CNBB


“A esperança não decepciona” (Rm 5,5).

Mensagem ao Povo Brasileiro, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):

Guiados pelo Espírito Santo e impulsionados pela Ressurreição do Senhor, unidos ao Papa Francisco, nós, bispos católicos, em comunhão e unidade, reunidos para a primeira etapa da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de modo on-line e com a representação de diversos organismos eclesiais, dirigimos ao povo brasileiro uma mensagem de fé, esperança e corajoso compromisso com a vida e o Brasil.

Enche o nosso coração de alegria perceber a explosão de solidariedade, que tem marcado todo o País na luta pela superação do flagelo sanitário e social da COVID-19. A partilha de alimentos, bens e espaços, a assistência a pessoas solitárias e a dedicação incansável dos profissionais de saúde são apenas alguns exemplos de incontáveis ações solidárias. Gestores de saúde e agentes públicos, diante de um cenário de medo e insegurança, foram incansáveis e resilientes. O Sistema Único de Saúde-SUS mostrou sua fundamental importância e eficácia para a proteção social dos brasileiros. A consciência lúcida da necessidade dos cuidados sanitários e da vacinação em massa venceu a negação de soluções apresentadas pela ciência. Contudo, não nos esquecemos da morte de mais de 660.000 pessoas e nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, trazendo ambas em nossas preces.

Agradecemos ainda, de modo particular às famílias e outros agentes educativos, que não se descuidaram da educação das crianças, adolescentes, jovens e adultos, apesar de todas as dificuldades. Com certeza, a pandemia teria consequências ainda mais devastadoras, se não fosse a atuação das famílias, educadores e pessoas de boa vontade, espírito solidário e abnegado. A Campanha da Fraternidade 2022 nos interpela a continuar a luta pela educação integral, inclusiva e de qualidade.

A grave crise sanitária encontrou o nosso País envolto numa complexa e sistêmica crise ética, econômica, social e política, que já nos desafiava bem antes da pandemia, escancarando a desigualdade estrutural enraizada na sociedade brasileira. A COVID-19, antes de ser responsável, acentuou todas essas crises, potencializando-as, especialmente na vida dos mais pobres e marginalizados.

O quadro atual é gravíssimo. O Brasil não vai bem! A fome e a insegurança alimentar são um escândalo para o País, segundo maior exportador de alimentos no mundo, já castigado pela alta taxa de desemprego e informalidade. Assistimos estarrecidos, mas não inertes, os criminosos descuidos com a Terra, nossa casa comum. Num sistema voraz de “exploração e degradação” notam-se a dilapidação dos ecossistemas, o desrespeito com os direitos dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, a perseguição e criminalização de líderes socioambientais, a precarização das ações de combate aos crimes contra o meio ambiente e projetos parlamentares desastrosos contra a casa comum.

Tudo isso desemboca numa violência latente, explícita e crescente em nossa sociedade. A crueldade das guerras, que assistimos pelos meios de comunicação, pode nos deixar anestesiados e desapercebidos do clima de tensão e violência em que vivemos no campo e nas cidades. A liberação e o avanço da mineração em terras indígenas e em outros territórios, a flexibilização da posse e do porte de armas, a legalização do jogo de azar, o feminicídio e a repulsa aos pobres, não contribuem para a civilização do amor e ferem a fraternidade universal.

Diante deste cenário esperamos que os governantes promovam grandes e urgentes mudanças, em harmonia com os poderes da República, atendo-se aos princípios e aos valores da Constituição de 1988, já tão desfigurada por meio de Projetos de Emendas Constitucionais. Não se permita a perda de direitos dos trabalhadores e dos pobres, grande maioria da população brasileira. A lógica do confronto que ameaça o estado democrático de direito e suas instituições, transforma adversários em inimigos, desmonta conquistas e direitos consolidados, fomenta o ódio nas redes sociais, deteriora o tecido social e desvia o foco dos desafios fundamentais a serem enfrentados.

Nesse contexto, iremos este ano às urnas. O cenário é de incertezas e radicalismos, mas, potencialmente carregado de esperança. Nossas escolhas para o Executivo e o Legislativo determinarão o projeto de nação que desejamos. Urge o exercício da cidadania, com consciente participação política, capaz de promover a “boa política”, como nos diz o Papa Francisco. Necessitamos de uma política salutar, que não se submeta à economia, mas seja capaz de reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de bons procedimentos, como as conquistas da Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar 135 de 2010, que afasta do pleito eleitoral candidatos condenados em decisões colegiadas, e da Lei 9.840 de 1999, que criminaliza a compra de votos. Não existe alternativa no campo democrático fora da política com a ativa participação no processo eleitoral.

Tentativas de ruptura da ordem institucional, hoje propagadas abertamente, buscam colocar em xeque a lisura do processo eleitoral e a conquista irrevogável do voto. Tumultuar o processo político, fomentar o caos e estimular ações autoritárias não são, em definitivo, projeto de interesse do povo brasileiro. Reiteramos nosso apoio às Instituições da República, particularmente aos servidores públicos, que se dedicam em garantir a transparência e a integridade das eleições.

Duas ameaças merecem atenção especial. A primeira é a manipulação religiosa, protagonizada tanto por alguns políticos como por alguns religiosos, que coloca em prática um projeto de poder sem afinidade com os valores do Evangelho de Jesus Cristo. A autonomia e independência do poder civil em relação ao religioso são valores adquiridos e reconhecidos pela Igreja e fazem parte do patrimônio da civilização ocidental. A segunda é a disseminação das fake news, que através da mentira e do ódio, falseia a realidade. Carregando em si o perigoso potencial de manipular consciências, elas modificam a vontade popular, afrontam a democracia e viabilizam, fraudulentamente, projetos orquestrados de poder. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e o respeito aos resultados nas eleições. A democracia brasileira, ainda em construção, não pode ser colocada em risco.

Conclamamos toda a sociedade brasileira a participar das eleições e a votar com consciência e responsabilidade, escolhendo projetos representados por candidatos e candidatas comprometidos com a defesa integral da vida, defendendo-a em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte natural. Que também não negligenciem os direitos humanos e sociais, e nossa casa comum onde a vida se desenvolve. Todos os cristãos somos chamados a preocuparmo-nos com a construção de um mundo melhor, por meio do diálogo e da cultura do encontro, na luta pela justiça e pela paz.

Agradecemos os muitos gestos de solidariedade de nossas comunidades, por ocasião da pandemia e dos desastres ambientais. Encorajamos as organizações e os movimentos sociais a continuarem se unindo em mutirão pela vida, especialmente por terra, teto e trabalho. Convidamos a todos, irmãos e irmãs, particularmente a juventude, a deixarem-se guiar pela esperança e pelo desejo de uma sociedade justa e fraterna. Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, obtenha de Deus as bênçãos para todos nós.

Brasília – DF, 29 de abril de 2022.

59ª. Assembleia Geral da CNBB

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral


Deus é Amor! Ele afasta o medo! 

Ele afasta o medoPrecisamos ter a convicção de uma coisa: NÓS NÃO ESTAMOS SOZINHOS. JESUS CRISTO ESTÁ CONOSCO!

Assim como na tempestade com os apóstolos, pode haver uma impressão de que Jesus não está acordado, mas Ele está atento e já está agindo. Por isso, precisamos orar e colocar no coração dEle, no suave silêncio de nossas casas, todas as nossas fraquezas e nossos pecados, fortalecer nossa confiança e reanimar a nossa fé.

Vamos entregar ao Senhor o medo que habita em nosso coração, pedindo para que Ele nos encha de confiança, nos liberte da raiz do nosso medo e nos cure: seja essa raiz a pandemia ou qualquer outro grande mal que esteja nos incomodando. Que a gente entregue também, nossos entes queridos para que o Senhor cuide deles e os proteja de todas as espécies de perigos.

Precisamos ter a certeza de que, se vivermos em paz e fiéis ao Senhor e a cada dia nos entregarmos em Seus braços, tudo o que nos pode acontecer há de se transformar em algo bom. Se Jesus é o rei de nossas vidas, cumpre-se em nós a promessa escrita em Eclesiástico 34, 14-16: “Quem teme o Senhor de nada tem medo, de nada se acovarda, pois Ele é a esperança… Os olhos do Senhor estão fixos nos que O amam, Ele é para eles proteção poderosa, apoio firme, refúgio contra o vento devastador e, no calor do meio dia, defesa para não tropeçar e auxílio para não cair”

É lógico que não devemos perder o medo perdendo a prudência, ou seja, sair de casa nesses dias de pandemia sem se proteger com máscara, álcool em gel e evitando grandes aglomerações, algo que ainda é necessário mesmo com o feliz avanço das vacinas. Mas a certeza do Senhor conosco nos ajuda a ter esperança de que isso realmente vai passar e podemos viver uma vida digna, mesmo tendo que ainda precisar desses cuidados por mais algum tempo.

Nessa certeza de que Jesus Cristo está conosco e que Ele deseja que tenhamos mais fé no Seu poder e que percamos o medo dos grandes males do mundo, sobretudo dessa pandemia, vamos rezar esta oração:

“SENHOR AMADO, TU ÉS MEU BOM PASTOR, MEU ESCUDO PROTETOR, A ROCHA DE ONDE ME REFUGIO. CONTIGO MINHA VIDA ESTÁ A SALVO. QUERO VIVER SEM MEDO, CAMINHAR FIRME E SEGURO EM TUA PRESENÇA E SER FELIZ EM MEIO A QUALQUER PERIGO. NENHUM DANO ARRUINARÁ MINHA VIDA PORQUE AGORA A MINHA VIDA É TUA. TUDO TE ENTREGO PARA QUE ESTEJA SEGURO EM TEU CORAÇÃO DIVINO. AMÉM! (Dom Víctor M. Fernández)” 

Texto: Ewerton Costa


Jesus ressuscitou e está conosco!

Jesus-Ressuscitado-3Jesus ressuscitou e está conosco “Porque Seu amor é para sempre” (cf. Sl 136). Estas não são meras palavras… São fatos concretos da Páscoa de Jesus. Tudo Lhe aconteceu nesta terra: perseguições, sofrimentos, morte. Mas nEle venceu a fidelidade, o amor, a vida. Sim, a vida teve a última palavra!

Com Sua Ressurreição, Jesus nos fez renascer como “Povo da Páscoa”. Povo que assume a causa pela qual Ele veio a este mundo: “Para que todos tenham vida plenamente”: todos aqueles que buscam paz, dignidade humana, liberdade, saúde, solidariedade, amor.

É Páscoa: tempo de esperança e ação. Tempo para começar uma vida nova, na certeza de que, nas mãos de Deus, até a morte pode se transformar em vida. Depois da Ressurreição, a cruz se tornou testemunho de amor, sinal de esperança. É o poder de Deus que se manifesta na humildade e no serviço dos que crêem e confiam na Sua eterna Misericórdia.

Que a luz do Ressuscitado ilumine seu caminho e lhe dê forças para prosseguir. Com certeza, todas as noites escuras acabam tendo o nascer do sol pela manhã. Que a Páscoa aconteça em nossas vidas, dizendo sim ao amor e à vida, vivenciando a solidariedade, lutando por um mundo melhor e perseverando no Amor Fraterno. Enfim, concretizando tudo o que Jesus ensina!

A Ressurreição de Cristo é mais uma prova de que o amor e a vida são eternos. A Páscoa não é somente um dia para comermos chocolates e, sim, 50 dias para contemplarmos e comemorarmos a vida e ressureição dAquele que morreu para nos salvar. Que Jesus esteja verdadeiramente inserido no coração de todos nesta Páscoa!

“Ó Cristo Ressuscitado, da morte vencedor, por tua vida e teu amor, mostraste a nós a face do Senhor (…) A ti, inefável doçura e nossa eterna vida, o poder e a glória por todos os séculos. Amém!”

(trechos de uma Oração Pascal) 
Adaptação: Ewerton Costa 


A autoridade de Jesus Cristo contra o mal

A AUTORIDADE DE JESUS CONTRA O MALPara entender o poder e a autoridade de Jesus Cristo, precisamos voltar ao batismo de Jesus por João Batista, quando o Espírito Santo desceu sobre Ele. Jesus recebeu o Espírito que desceu sobre Ele em forma de pomba, e o Pai O abençoou, proclamando: “Tu és o meu Filho amado, em Ti coloco meu agrado”. Jesus, o “Ungido de Deus”, venceu as tentações de Satanás que O assediou nos quarenta dias e noites em que passou por jejum e orações. A autoridade de Jesus derrotou a teimosia e a insistência do demônio (Lucas 4, 1-13).

O poder e a autoridade de Jesus Cristo  vêm de quem Ele é: o Messias, o Filho de Deus, o Salvador. Vem do Pai que O ama e nEle coloca seu agrado. E vem do Espírito Santo que é “sopro” e “força criadora de Deus”, que no passado dirigia os profetas e dirigiu o próprio Jesus no cumprimento de sua missão. E Jesus está unido a Deus Pai e ao Espírito Santo, sendo um só Deus que é a Santíssima Trindade.

Com este poder e autoridade de Santíssima Trindade, Jesus derrotou aquela “besta”, no retiro do deserto. E agora, após sua grande revelação na Cruz e na Ressurreição para salvar os pecadores arrependidos, somos chamados a reconhecer esse poder e autoridade como eternos, infinitos e que agem para defender todos aqueles que verdadeiramente crêem e confiam nEle contra toda e qualquer força do mal.

Por isso, a nós cabe crer e confiar na autoridade de Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo. E fazer isso sem medo, sem insegurança e sem dúvida! A autoridade de Deus é, sim, maior do que todos os piores males que conhecemos!

Ewerton Costa 
Adaptado da fonte: “O poder e a autoridade de Jesus”, por Dom Caetano Ferrari – Site da CNBB 


A Confiança em Deus

RETRATO - Jesus MisericordiosoPor que Deus nos recomenda tanto a confiança nEle? Porque ela é uma homenagem prestada à Sua Misericórdia. Quem espera a ajuda de Deus confessa que Deus é todo-poderoso e bondoso, que pode e quer nos demonstrar essa ajuda e que Ele é, sobretudo, misericordioso. “Ninguém é bom senão só Deus” (Mc 10, 18).

Durante a última ceia, após dar instruções e anunciar que os Apóstolos sofreriam no mundo muita opressão por defenderem Seu nome, Jesus Cristo aponta para a confiança como condição necessária de perseverança e de obtenção da ajuda do Deus misericordioso: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33). São as últimas palavras do Salvador antes da paixão, anotadas por São João Evangelista, que desejava lembrar a todos os fiéis e por todos os tempos como é necessária a confiança, não apenas recomendada, mas ordenada pelo Salvador.

Precisamos muito conhecer a Deus de verdade, visto que o falso conhecimento de Deus esfria a nossa relação com Ele e estanca (ou seja, para de movimentar) as graças da Sua Misericórdia.

A confiança deve estar unida com o temor (ou seja, respeito e fidelidade por Deus), pois esse é o efeito do conhecimento da nossa miséria. Sem esse temor, a confiança se transforma em arrogância, e o temor sem a confiança se transforma em covardia. O temor com a confiança torna-se humilde e valoroso, e a confiança com o temor torna-se forte e modesta. A confiança deve também estar unida com a expectativa, ou seja, com o desejo de contemplar as promessas divinas e de juntar-se ao nosso Salvador. (…) A fiel expectativa por Deus deve estar de acordo com a vontade divina, deve ser muito humilde, não apenas em sentimento, mas também em vontade, que nos deve estimular ao esforço contínuo e à total entrega a Deus.

Eis os frutos da confiança, fornecidos pelo Espírito Santo:

– A confiança em Deus afasta toda tristeza e depressão, e enche a alma de grande alegria, até nas mais difíceis condições de vida.

– A confiança opera milagres, porque conta com a onipotência de Deus.

– A confiança proporciona a paz interior, que o mundo não pode dar. A confiança abre o caminho para todas as virtudes.

Confiemos em Deus em todas as nossas necessidades, nos sofrimentos, nos perigos e nos abandonos. Confiemos mesmo quando nos parece que Deus nos abandonou, quando nos nega os Seus consolos, quando temos a impressão de que não nos ouve ou quando nos oprime com uma pesada cruz. Nesses terríveis momentos, é preciso confiar mais ainda em Deus porque esse é um tempo de provação, um tempo de experiência pelo qual toda alma deve passar.

Oremos:

“Espírito Santo, dá-me a graça de uma confiança sólida em razão dos méritos de Jesus Cristo, e temerosa em razão da minha fraqueza.

Quando a pobreza bater à minha porta: JESUS, EU CONFIO EM VÓS.

Quando me visitar a doença ou a deficiência física: JESUS, EU CONFIO EM VÓS.

Quando o mundo me rejeitar e me perseguir com o seu ódio: JESUS, EU CONFIO EM VÓS.

Quando a negra calúnia me manchar e encher de amargura: JESUS, EU CONFIO EM VÓS.

Quando me abandonarem os amigos e me ferirem com suas palavras e suas ações: JESUS, EU CONFIO EM VÓS.

Espírito de amor e de misericórdia, seja meu refúgio, meu doce consolo, minha aprazível esperança, para que nas mais difíceis circunstâncias da minha vida eu nunca deixe de confiar em Ti.”

Texto: Ewerton Costa
Fonte: A Misericórdia de Deus em suas obras (Pe. Miguel Sopocko)


COMUNICADO SOBRE A SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DE CELEBRAÇÕES RELIGIOSAS

ArquiSP

“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”, cf. Lc 10,33-34.

Tendo em vista a grave crise sanitária provocada pela disseminação do “novo Coronavírus”, determino, em função do cânon 87§1 do Código de Direito Canônico, a suspensão de todas as celebrações e eventos religiosos com a participação de povo, da Igreja Católica na Arquidiocese de São Paulo, a partir do dia 21 de março de 2020 e até decisão ou orientação diversa.

Determino que esta COMUNICAÇÃO seja impressa e afixada nas portas das igrejas. Exorto a todos que sigam conscienciosamente as orientações das Autoridades sanitárias para evitar a difusão da COVID-19 e colaborem com grande caridade cristã e solidariedade humana na preservação da saúde e no cuidado dos enfermos. A vida é dom precioso de Deus e requer o compromisso fraterno de todos.

Exorto os sacerdotes, diáconos, religiosos e todos os colaboradores de nossas comunidades eclesiais a que não deixem de prestar assistência e conforto religioso e espiritual ao povo, especialmente aos enfermos, nos modos possíveis nesta hora de angústia e incerteza. Os Padres celebrem em privado pelo povo nos horários costumeiros e procurem manter o contato com suas comunidades através das mídias, transmitindo também as celebrações ao povo pelas mesmas mídias.

Exorto os fiéis a acompanharem, em suas residências, as celebrações e atos religiosos transmitidos pelos vários Meios de Comunicação Social. Peçamos juntos, com fé e perseverança, que Deus tenha misericórdia de seu povo, livrando-nos de toda doença e angústia. Estejam certos de que o Arcebispo os acompanha com sua preocupação e carinho e reza por todos cada dia. Deus os abençoe e guarde no seu amor.

São Paulo, 21 de março de 2020

 

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arquidiocese de São Paulo

 


Sínodo Arquidiocesano em 2020: O que devemos fazer?

Sínodo ArquidiocesanoAs regiões episcopais e vicariatos ambientais estão concluindo suas assembleias e preparando os relatórios sobre o caminho percorrido ao longo deste segundo ano do sínodo arquidiocesano de São Paulo (2019). E já aparecem muitas indicações e propostas para traduzir em novas práticas pastorais e missionárias o tema do sínodo – “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária” de toda a nossa Arquidiocese de São Paulo.

A Secretaria Geral do sínodo recebe esses relatórios e os disponibiliza para a Comissão de Redação do sínodo. Esta, por sua vez, auxiliada por um grupo de peritos, vai elaborar o relatório geral dos trabalhos sinodais já realizados, para apresentar esse relatório na primeira sessão da assembleia sinodal arquidiocesana de 2020.

No terceiro ano do sínodo, será realizada a assembleia sinodal arquidiocesana propriamente dita. Os primeiros dois anos foram preparatórios para se chegar à grande assembleia, expressão da Arquidiocese inteira, para elaborar as “conclusões sinodais”. Um sínodo é um caminho de “comunhão”, um esforço feito “em mutirão”, para responder à questão posta pelo tema do sínodo: a comunhão, conversão e renovação missionária da Arquidiocese.

O caminho sinodal já percorrido nos dois primeiros anos foi muito importante para se fazer, agora, um discernimento sobre o conjunto da vida da Arquidiocese e para se chegar a indicações importantes para traduzir o tema ou “propósito” do sínodo em novas atitudes e práticas missionárias e pastorais na Igreja em São Paulo. Ao longo do terceiro ano do sínodo, serão dados diversos passos para se chegar, no final do ano, a um conjunto consistente de conclusões ou propostas finais do sínodo arquidiocesano.

Após o encerramento do sínodo, terá logo início a etapa pós-sinodal, para a aplicação das propostas elaboradas pela assembleia sinodal. Isso poderá implicar a revisão dos planos pastorais e assumir prioridades e práticas pastorais novas, que respondam adequadamente às propostas sinodais assumidas. Poderá requerer, também, a revisão de diversas diretrizes pastorais e até mesmo da atual estrutura e organização pastoral da Arquidiocese no seu conjunto, com o objetivo de traduzir em práticas pastorais novas as conclusões sinodais.

Mais importante que tudo, porém, será o esforço para mudar certa “cultura” pastoral, mais voltada “para dentro” da própria Igreja, ocupada sobretudo com a “pastoral de conservação”. Precisamos tornar-nos mais e melhor uma “Igreja em saída missionária”, “em estado permanente de missão”, uma Igreja marcadamente missionária. O propósito do sínodo inclui a “conversão e renovação missionária” de nossa Igreja, como resposta à voz do Espírito de Deus, que nos fala de muitos modos neste período que a nossa Igreja atravessa: “Quem tem ouvidos, escute o que o Espírito diz à Igreja” (cf. Ap 2-3).

O Regulamento do terceiro ano do sínodo (2020), elaborado pela Comissão de Coordenação Geral do sínodo, já foi divulgado no jornal O SÃO PAULO, na edição nº 3270 (16-22 de outubro de 2019), e está disponível para todos também no portal da Arquidiocese (www.arquisp.org.br). Nele, são explicitados os objetivos, métodos, etapas, membros e competências da assembleia sinodal arquidiocesana. Para 2020, prevê-se, também, uma nova participação das paróquias e setores pastorais da Arquidiocese. A preparação dos trabalhos da assembleia sinodal arquidiocesana já foi iniciada e se prevê que serão trabalhos intensos. A convocação dos membros da assembleia deverá acontecer ainda em 2019.
A abertura será feita no dia 29 de fevereiro de 2020, na Catedral da Sé. Seguem, depois, as sete sessões de trabalho da assembleia, ao longo do ano. O encerramento dos trabalhos sinodais acontecerá em 27 de fevereiro de 2021.

Todo o povo, em particular, em suas comunidades e organizações eclesiais e pastorais, está convocado a acompanhar o caminho sinodal durante o ano de 2020, sobretudo por meio de intensa oração ao Espírito Santo, verdadeiro “animador” do sínodo e da Igreja. É Ele que fará produzir frutos ao esforço que fazemos para lhe ser atentos e obedientes.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 22/10/2019


A grande preparação para o Natal de Jesus Cristo

Natal de JesusRoxo e azul são cores que simbolizam a entrada da igreja no tempo do Advento. Para os cristãos, este é um momento de reflexão, de espera, de esperança e de expectativa para a vinda de Jesus Cristo. A palavra é de origem latim, do termo adventum que significa “vinda, chegada”. Esse período tem como finalidade preparar o coração dos cristãos para receber Cristo no Natal, um tempo determinado para festejar o nascimento do menino Jesus.

Para vivenciar melhor este momento, as celebrações acontecem durante os quatro domingos que antecedem o Natal. E todos os preparativos e ações são realizadas na igreja com foco nos fieis para que todos possam preparar o coração para receber Jesus e começar um tempo de renovação, que acontece dentro de todos, tendo a certeza de que tudo vai dá certo.

Porém, é fundamental que os cristãos vivam este tempo com o coração cheio de amor, paz e que busquem a purificação do Espirito. Por se tratar de um tempo de esperança, tudo que era velho fica para traz e dá lugar ao novo. Por isso, a vinda do menino Jesus se faz presente: no pão, no vinho, no sacramento, na liturgia e na eucaristia. Com isso, as forças são renovadas e nascem novamente dentro de nos.

Natal é tempo de comemorar este novo ciclo do advento que foi vivida pelos profetas. Uma aliança de amor realizada na plenitude em Jesus Cristo, e na vida de todos aqueles que praticam a justiça na Palavra de Deus.

Esse tempo é dividido em três dimensões: passado, futuro e presente. E nesta ocasião buscamos a purificação do espirito para aumentar a fé dentro de nós, e para que assim possamos seguir durante toda a nossa caminhada focados na purificação e na renovação do amor entre irmãos.

A tradição católica reforça a importância da oração e da vigilância em nosso cotidiano. O poder da oração transforma, e a vigília nos conduz por um caminho mais seguro aos olhos do nosso criador.

Essas duas palavras são usadas no advento para salientar que o Senhor veio na História de Belém; virá, no final do mundo e também no final da vida de cada um de nos.

Por fim, se aproxima a alegria vindoura e as tradições marcam um “Novo Céu e a Nova Terra”, tudo isso reafirma as promessas de um pai, que está no céu e continua guiando o seu rebanho (venha o teu reino). E ele virá no momento certo.

Um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!

Texto: Val Veríssimo


Uma Igreja com rosto amazônico

artigoO artigo, organizado com base na experiência missionária do autor, aponta caminhos que podem ser divisados como promotores de uma Igreja com rosto amazônico. Considera o que a Igreja amazônica pode oferecer à Igreja Católica no mundo, bem como o que ela precisa ser: uma Igreja plenamente católica na Amazônia.

Introdução

Diante da secular fachada da Basílica Vaticana, a uma multidão embevecida de fiéis reunidos entre as colunatas que cercam a praça idealizada por Bernini, o papa Francisco deu a conhecer, de maneira espontânea e imprevista, ao final da missa da canonização dos mártires do Rio Grande do Norte, seu desejo de celebrar um sínodo pan-amazônico. Se não fossem as revelações posteriores, essa inusitada cena seria uma anamnese perfeita da atitude de outro papa que, numa ocasião similar, após oficiar a Eucaristia, fez um tão espontâneo e significativo anúncio ao mundo, definido como “flor espontânea de inesperada primavera” (João XXIII, 1963). Tal dístico – o Concílio Vaticano II – transformou-se no maior evento da Igreja no século XX e marcou decisivamente a fisionomia católica.

Salvaguardando as diferenças de contextos e proporções, pode-se alentar profundas esperanças em relação às “espontaneidades” daqueles que chegam ao sólio petrino. Quiçá se avizinhe uma lufada revigorante do Espírito Santo, capaz de marcar outra vez a tessitura eclesial, mormente aquela da região amazônica, aportando, como fez o Vaticano II com a modernidade, a Igreja de maneira mais cirúrgica no coração dos povos e das culturas amazônicas. Trata-se de, como sonha o papa Francisco, buscar e apresentar “novos caminhos para a evangelização daquela porção do povo de Deus, especialmente dos indígenas” – uma categoria que frequentemente é esquecida e não raro tem suas perspectivas de futuro defraudadas inclusive pela “crise da floresta amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta” (FRANCISCO, 2017).

Assim, instados pelos apelos do papa Francisco e inquietos pela busca de novos itinerários para a evangelização daquela singular parcela do povo de Deus, tentaremos, neste artigo, apontar caminhos (non nova, sed nove) para a ação pastoral e evangelizadora da Igreja neste admirável “continente amazônico”. Os argumentos que sustentarão o aceno desses caminhos brotaram, de um lado, da reflexão teológica eclesial atual à luz das exigências da ação evangelizadora na Amazônia e do papado de Francisco; de outro, da experiência prático-pastoral do autor deste texto, que, por cinco anos, atuou na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, a mais extensa e indígena do Brasil, atendendo a aldeias ribeirinhas e colaborando na formação de comunidades cristãs. O texto, nesse sentido, será eivado também por uma carga testemunhal e delineado segundo a perspectiva de uma posição geográfica restrita, não abrangendo, desse modo, em minúcias toda a capilaridade do universo pan-amazônico.

1. Uma Igreja com rosto amazônico

A alvissareira convocação da assembleia sinodal pelo papa Francisco despertou esperanças, promoveu alegrias. O tema eleito pelo pontífice para esse Sínodo provoca tácita explosão de ideias, propostas e sonhos. Trata-se de oportunidade rara de levar àquela seara eclesial propostas que incidam numa pastoral encarnada, com contornos claros e preocupações que tocam a carne real da Igreja amazônica. De fato, novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral no universo (pan-)amazônico constituem um ideal simultaneamente audacioso e complexo; um projeto digno de visionários da estirpe do atual pontífice, secundado, certamente, por bispos que sentem diuturnamente as vicissitudes do labor evangelizador na desafiante realidade amazônida.

Nesse sentido, é possível, sem antecipar-se às discussões sinodais, tentar contemplar, com propostas objetivas e reais, as silhuetas de uma Igreja nitidamente amazônica. Trata-se, a nosso ver, entre teorias e experiências, de sonhar com uma Igreja capaz de exalar o bom odor de sua gente, além de, ao mesmo tempo, amalgamar as necessidades concretas de seu povo e ser espelho da vivacidade ritual das culturas autóctones.

1.1. Igreja amazônica: capaz de exalar o bom odor de sua gente, sua cultura e sua história

No processo de preparação para a assembleia a ser celebrada em outubro de 2019, a visita do papa Francisco ao Peru, mormente seu discurso a mais de 5 mil indígenas em Porto Maldonado, tornou-se evento inaugural dos trabalhos sinodais, como destacou um bispo da Amazônia (DAMIAN, 2018). Contíguo a esse encontro, naquele mesmo 19 de janeiro, um séquito de mais de 30 bispos, orientados pelo presidente da Rede Pan-Amazônica, cardeal Hummes, e pelo secretário sinodal, dom Lorenzo Baldisseri, debateu sobre a dinâmica de trabalhos da assembleia sinodal. Não mais que seis meses depois, despontou o sucinto texto preparatório, que deveria ser levado às comunidades para ulteriores debates, aportes e retificações, em vista de tornar-se um texto-base da reunião sinodal.

Elaborado por uma equipe de expertos constituídos em uma comissão pré-sinodal, o texto-base do Sínodo, entre outras coisas, atesta que “as reflexões do Sínodo especial superam o âmbito estritamente eclesial amazônico, por serem relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta” (DP, “preâmbulo”). Esse mesmo argumento, seminalmente, já havia sido avalizado pelo papa Francisco quando da convocação do Sínodo (2017). Assim, antes de receber algo ou ser instruída por outrem, deve-se admitir que a Igreja amazônica pode oferecer muitíssimo de sua realidade à Igreja Católica no mundo; seria o exalar de um bom odor dos cristãos pan-amazônicos para a humanidade.

A Igreja pan-amazônica é, congenitamente, plural e superlativa. Sua pluralidade externa-se em suas expressões eclesiais, em sua população e em sua geografia. De fato, a bacia hidrográfica da Amazônia representa uma das maiores reservas de biodiversidade de água doce e possui mais de um terço das florestas primárias do planeta. São, segundo o documento preparatório, mais de 7,5 milhões de quilômetros quadrados, com nove países que fazem parte desse grande bioma que é a Amazônia (DP 1). A diversidade populacional é imensa. Desde ribeirinhos até citadinos, de aldeias voluntariamente isoladas a tribos profundamente ajustadas à tradição ocidental, são mais de 30 milhões de habitantes. Trata-se, como é dito por pesquisadores, de várias “Amazônias” alocadas numa única pátria grande chamada Amazônia. É um universo plural e grandioso que abriga imensa e diversa variedade de povos, línguas, culturas e raças.

Nesse cenário complexo, amplo e plural, mesmo não de modo homogêneo e totalmente ordenado, a Amazônia consegue conviver com a diversidade e a pluralidade cultural, religiosa e social. Assim, é forçoso admitir que esse aspecto é algo relevante para toda a Igreja. Deve, portanto, ser um dos bons aromas exalados, desde as cercanias das comunidades ribeirinhas ou aldeias indígenas, para a Igreja católica mundo afora. Contemplando a heterogeneidade da Igreja naquela porção particular do povo de Deus, cabe traçar caminhos para, na Igreja Católica, respeitar o diverso, o múltiplo e o plural e conviver com eles, evitando qualquer reducionismo ou unilateralidade de modelo eclesial e compreendendo que os acurados modelos eclesiológicos são modos, por vezes culturais, de viver uma mesma fé.

Outro aspecto típico da Igreja amazônica que pode ser apresentado à Igreja em toda orbi como bom odor daquela parcela do povo de Deus é a evangélica pobreza. A rigor, constata-se a olho nu que a região pan-amazônica é empobrecida. Um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) aponta que são drásticas as condições sociais, econômicas e ambientais nos países amazônicos. Cerca de metade da população desses países encontra-se abaixo da linha da pobreza. Associa-se a isso a mortalidade infantil, que na Amazônia é bem maior do que a média nacional dos países. Na Bolívia, ela está acima do verificado nas regiões mais pobres do mundo: são 73 casos por mil nascidos vivos. Há ainda a questão da desnutrição, que atinge um quarto da população infantil, sendo os indígenas os mais vulneráveis a esse problema. Ademais, pesquisas revelam que o analfabetismo na região está acima dos parâmetros internacionais, atingindo na Amazônia brasileira 11%, mais que o dobro em relação aos 5% definidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como critério de situação crítica. Em termos eclesiais, a Pan-Amazônia, proporcionalmente, é a que goza de menor quantidade de ordenados e consagrados a serviço das diversas comunidades, tem menos locais de culto e obras assistenciais mantidas pela Igreja. Percebe-se, portanto, da cultura à religiosidade, da economia à educação, o empobrecimento da região pan-amazônica.

Não obstante a pobreza estrutural, fruto de opções políticas injustas, outro tipo de pobreza pode ser percebido, aquela que é evangelicamente vivida. A Igreja pan-amazônica, excetuando algumas poucas realidades, é simples, pobre. Nas feições do povo ou na organização das igrejas, percebe-se a leveza e a simplicidade das primeiras comunidades cristãs. No estilo, em geral, despojado de seus pastores, percebe-se uma legião de novos signatários do pacto das catacumbas, filhos da tradição latino-americana semeada desde Medellín, desprovidos de títulos e insígnias de ostentação, paladinos de uma Igreja pobre e para os pobres. No apoio às organizações de defesa dos direitos dos espoliados, dos indígenas e ribeirinhos, vê-se a certeza de uma Igreja que busca ser voz ao lado dos que têm pouca ou quase nenhuma voz. Assim, ciente, como sonha e ensina o papa, de que o serviço aos pobres deve ser o critério de autenticidade do evangelho (cf. EG 195), a Igreja na Amazônia tem um bom odor a exalar pelos seus poros para a Igreja Católica no mundo inteiro: o compromisso com os pobres, com uma Igreja pobre. Um compromisso congênito, próprio do seu jeito de ser Igreja.

Em cinco anos que vivi na Amazônia, fui surpreendido, porque aprendi mais que ensinei, ganhei mais que doei. Aquela Igreja local ofertou muito mais à minha visão da Igreja católica, universal. Aprendi, convivendo com outros religiosos, o doloroso preço a ser pago pela fidelidade evangélica a Deus nos pobres e sofredores. Acompanhei, não sem sofrimento, uma religiosa italiana da Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora ser subitamente retirada de sua função e enviada ao continente africano após ameaças de morte, por ter denunciado ao Ministério Público a exploração sexual de indígenas por um cartel de empresários da cidade. Aprendi, no atendimento diário de mais de 18 tribos sob minha responsabilidade pastoral, com línguas e histórias diferentes, a conviver com a singeleza e a diversidade de uma Igreja simples e plural, que merece atenção e respeito.

Em resumo, uma Igreja com rosto amazônico, antes de qualquer coisa, tem de oferecer à Igreja Católica no mundo aquilo que ela é, diríamos, ontologicamente. Assim, por sua própria peculiaridade, deve ensinar à Igreja universal a capacidade de conviver com a necessária pluralidade eclesial. De igual modo, a pobreza evangélica, vivida de forma radical na Amazônia, deve ser uma flâmula apresentada à Igreja universal como critério de autenticidade do seu anúncio do evangelho.

1.2. Igreja amazônica: atenta às necessidades concretas do povo e espelho da vivacidade ritual autóctone

Ainda delineando as feições de uma Igreja com rosto amazônico, sonha-se com uma comunidade encarnada, real e sintonizada com as alegrias e esperanças concretas do povo alocado na Pan-Amazônia. Trata-se de ideal ambicioso, pois essa região é infinitamente diversa, plural e múltipla. Esse fato dispensa, por um lado, qualquer projeto monolítico de identidade eclesial e, por outro, enseja a busca de elementos transversais que, adaptados às diversas situações locais, permitem construir uma identidade particular. Nesse sentido, apresentamos três elementos que podem ser catalisadores de uma Igreja com rosto amazônico, a saber: ministérios, defesa da natureza e incorporação de elementos culturais à realidade celebrativa.

Ministérios

Uma Igreja amazônica que se faça verdadeiramente encarnada na história e assuma o rosto do seu povo deve repensar o exercício dos ministérios naquela região e repropor novos modelos. A rigor, tem-se ciência de que, dos mais de 400 mil sacerdotes no mundo, uma das menores parcelas de ministros ordenados católicos está no continente americano: cerca de 30%, segundo dados do Anuário Pontifício. A título de exemplo, no Brasil há 27.416 presbíteros e 3.849 diáconos permanentes. Existe, ainda, irregular distribuição do clero no país. A maior parte está concentrada nas regiões Sul (25%) e Sudeste (45%), enquanto na região Norte, justamente onde está a parte brasileira da Pan-Amazônia, há apenas 3% do clero nacional. Esse fato implica uma parca assistência às comunidades e a privação de muitos fiéis do acesso à Eucaristia dominical.

A lamentável situação eclesial à qual os povos ribeirinhos e comunidades da Pan-Amazônia estão submetidos pela falta de clero exige, no Sínodo, uma resposta audaciosa. É momento de rever o modelo de ministro ordenado e esboçar um papel mais significativo da mulher na Igreja do Amazonas. Não se trata de oposição ao ministério ordenado celibatário, que é um dom e graça para a Igreja, como afirmou dom Erwin Kräutler (BALLOUSSIER, 2018), mas de repensar a privação eucarística que muitos vivem na Amazônia. Ao mesmo tempo, é necessário identificar o tipo de ministério que pode ser dado à mulher, levando em conta o papel central que desempenham nessa Igreja particular (DAMIAN, 2018). A Igreja amazônica, assim como toda a Igreja universal, não deve ficar refém de um modelo único de exercício do sacerdócio (a rigor, a Igreja é plural em formas de vida sacerdotal). Deve, desde a Amazônia e ouvindo o clamor do povo, abrir-se a outros modelos. Especial atenção merece a proposta de Fritz Lobinger, bispo emérito de Aliwal,África do Sul,de “equipes de anciãos”. Esses anciãos (homens e mulheres) não seriam clérigos, embora fossem sacramentalmente ordenados sacerdotes e serviriam a Eucaristia. A um padre animador celibatário caberia supervisionar (acompanhar) as várias equipes ministeriais. Com esse regime, talvez não se sanaria a questão ministerial, contudo se mitigaria a dificuldade de comunhão que muitos amazônidas enfrentam.

Ecologia

Outra senda de uma Igreja forjada com traços plenamente amazônicos é a inegociável defesa integral da natureza. A Igreja cresce à sombra da diversidade ecológica da Amazônia, respira e transpira a biodiversidade dessa região. Deve-se ter claro que a Pan-Amazônia, em todo seu conjunto, responde pela metade da biodiversidade mundial, goza da última floresta tropical, amalgama 15% da água doce no mundo e é a maior extensão florestal nos trópicos. A população que vive na região – da qual fazem parte muitos cristãos –, além de habitar o lugar, tem uma relação umbilical inextrincável com a terra, os rios, as matas e as florestas. A cosmovisão dos viventes autóctones é eivada por essa relação quase mística com o ambiente que povoam.

Essa relação espiritual, no entanto, é diuturnamente tomada de assalto, achacada e vilipendiada. Em toda a Pan-Amazônia há reiteradas investidas de grandes conglomerados industriais para explorar suas riquezas minerais e vegetais. Milhões de quilômetros da região amazônica estão cedidos à exploração de recursos minerais. Só na Amazônia, até 2020, prevê-se o funcionamento de mais de duas dezenas de usinas hidrelétricas, às expensas do alagamento de áreas que deveriam ser protegidas e do remanejamento de famílias que, bem mais que terem uma terra, se sentem parte da terra que habitam. Soma-se a isso o desmatamento das florestas, que, somente na Amazônia Legal brasileira, segundo o Imazon, chegou a mais de 4 mil quilômetros no último ano. Não raro esse processo tem o assentimento dos próprios habitantes locais, que, cooptados por industriais e sob o engodo do discurso de bem-estar social, acampam as ideias subjacentes à prática exploratória e as promovem entre seus pares. Em face de tão complexo cenário, colocar-se sobre o pálio de defesa da biodiversidade é questão premente para a sociedade civil, e mais ainda para a Igreja.

Essa defesa da biodiversidade insere-se na clarividente certeza descrita pelo papa Francisco como ecologia integral (cf. LS 137). Ela repousa na plena convicção da inter-relação entre todos os organismos vivos, considerando o mundo todo como uma casa comum. Essa concepção concorre para a ideia de que a crise ambiental não é distinta da crise social (cf. LS 137) e que somente uma visão holística da realidade possibilitará a resolução de tão complexa situação. Nesse espírito, ante a crescente devastação da Pan-Amazônia, a crítica ao modelo de desenvolvimento antropocentrista e capitalista aplicado à Amazônia deve ser protagonizada pela Igreja. Esta deve inserir, no micronível, em seus planos catequéticos, uma crítica a esse sistema de desenvolvimento, que oprime e mata. De igual modo, na formação do clero local, deveria incutir, via ementa de cursos de formação sacerdotal, uma sadia teologia da criação, que torne aguda a compreensão da inter-relação entre os sistemas naturais e sociais, dos quais o próprio ser humano é parte, e explicite que a destruição dessa inter-relação implica também a do ser humano. Ainda nessa perspectiva, a Igreja deve colocar-se em linha de frente para interpor objeções a acordos que primam apenas pela lucratividade, sem levar em consideração o bem-estar das populações frágeis que vivem à sombra e/ou às margens da região amazônica. Por fim, que a defesa da ecologia integral seja uma bandeira institucionalizada da Igreja universal e das Igrejas particulares da Amazônia, para que não seja refém de primaveras ou invernos eclesiais, mas permaneça uma prática contínua da Igreja.

Ritualidade e liturgia

No espírito do olhar poético de Guimarães Rosa, uma terceira margem à qual a Igreja amazônica deve singrar, a fim de plasmar sua própria imagem, é o universo da ritualidade. Não sem razão, mirando a Pan-Amazônia, pode-se parafrasear o pensamento cartesiano e dizer que ritus, ergo sum (no rito, existo). Os povos autóctones, em geral, são afeitos a celebrações rituais. São ritos que as comunidades nativas preservam de maneira sistemática e explícita, vivenciando-os e transmitindo-os às gerações mais novas. Comuns entre muitas tribos, em diversas aldeias e comunidades, são os ritos que secundam a gravidez e o nascituro, que marcam a entrada na puberdade ou na vida adulta, que acompanham a passagem da vida para a morte. São ritos que se traduzem em festas, em grandes comemorações religiosas e espirituais.

Em comunidades amazônidas mais moldadas pela mentalidade ocidentalizada, os ritos são vividos de maneira velada, talvez parcimoniosa. Nesses casos, bem mais que em cerimônias rituais, expressam-se no modo particular de entendimento do mundo e de relacionamento com ele. É uma cosmovisão peculiar. Constata-se que é uma percepção delineada pela atitude de sacralidade com relação à natureza, aos ancestrais e ao Criador. Essa condição ritual, a exemplo de todas as outras culturas, é algo superlativo na cultura amazônica. Trata-se de quesito do qual não se pode prescindir na tentativa de compreender tal universo, pois compõe, de maneira emblemática, o complexo mosaico dos povos da Pan-Amazônia.

Diante dessa constatação, parece irrefragável a necessidade de localizar a liturgia católica de rito latino – predominante na região amazônica – dentro dessa ritualidade e festividade intrínsecas ao universo amazônico. Não se nega que o rito latino seja ritual, mas deve-se admitir que ele advogue uma ritualidade que possa ser, à luz do “continente amazônico”, prenhe de tons afeitos ao gênio das culturas (cf. CELAM, Medellín, “liturgia”, n. 7b) e se expresse como coroa de compromisso com a realidade humana (cf. CELAM, Medellín, “liturgia”, n. 4). Assim, é um imperativo que o Sínodo possa abrir espaço, não de maneira excepcional, mas institucionalizada, para que cada vez mais, sobretudo no que diz respeito às línguas mais comuns, os livros litúrgicos sejam vertidos para o vernáculo. Certamente, com o motu proprio Magnum Principium, de Francisco, está sendo germinada essa ideia no que tange à tradução dos textos para as línguas usualmente faladas, contudo cabe insistir para que essa posição seja aplicada a todos os tomos litúrgicos que compõem os rituais católicos.

Ademais, cabe desvelar a necessidade de adaptações rituais à realidade de alguns atos litúrgicos. Não se trata apenas de concessões, mas de admissão de traços da cultura amazônica no universo celebrativo, de maneira institucional. Tais traços seriam apresentados em cantos, na apropriação justa de ritos, como os de apresentação de nascituros (benzimentos) ou de apresentação de dons (como o que ocorre no Dabucuri, cerimônia milenar que ocorre na região do alto rio Negro), ou na preparação do ambiente religioso. Deve-se, contudo, livrá-los de qualquer sincretismo, mas fundi-los no espírito da liturgia católica, que, a rigor, não prescinde da realidade concreta dos povos; antes, ao contrário, faz-se carne nelas (cf. EG 115; 167).

À guisa de exemplo, ao longo dos anos que vivi na região amazônica, percebi que alguns passos foram ensaiados. O bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira, Edson Damian, entusiasta da cultura indígena, caminhando às apalpadelas, buscava sendas para esse feliz casamento entre a fé e a cultura. Em sua ordenação episcopal, com a mitra e o báculo, recebeu o cocar e o bastão indígenas, signos do poder e do serviço religioso. Esse gesto, excetuando a entrega da mitra, ele repetia quando ordenava padres autóctones. De igual modo, nos ritos iniciais da missa de posse do bispo, ao som do cariçu (instrumento musical ritual dos indígenas), foi feita uma ambientação do espaço, com defumação e preces em língua nativa. Igualmente, no processo catequético, há um esforço para aproximar a dinâmica própria do Reino de valores da cultura indígena, normalmente muito próximos. De modo particular, em celebrações com grande afluência de fiéis, eu favorecia o canto de músicas em línguas nativas, danças rituais e a proclamação de leituras no vernáculo local. Talvez seja o Sínodo momento oportuno de abertura para nova reforma litúrgica que, desta vez, atinja de maneira explícita o coração da realidade amazônica. Atualmente, o bispo da Diocese do Alto Rio Negro anda às voltas com uma tradução do rito da missa para uma das línguas presentes na sua diocese, a fim de que seja aprovada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Oxalá o Sínodo Pan-Amazônico impulsione esse projeto.

Conclusão

Ao fim desta reflexão, recorda-se que a evangelização no horizonte amazônico já goza de um lastro histórico de mais de 300 anos. Muito embora o Sínodo possa ser avançado e assertivo em suas intuições, deve-se reconhecer que suas proposições ainda percorrerão lento caminho até serem decantadas e se tornarem límpidas na Igreja amazônica. Desse modo, as sugestões acima expostas são elucubrações entre a teoria e a prática que precisam ser recepcionadas, acolhidas, avaliadas e redirecionadas até se tornarem suficientemente capazes de embeber a catolicidade da Igreja na cultura indígena. A rigor, em termos eclesiais e na perspectiva de uma sinodalidade profunda, julgo que a assembleia dos bispos deste ano deixará grande legado se, verdadeiramente, permitir aos bispos locais a liberdade para ousar traçar caminhos, construir novas trilhas. Nesse espírito, caberia aos prelados da Pan-Amazônia, com responsabilidade evangélica e devotado amor à Igreja, a missão de estabelecer, em suas realidades locais, aspectos ligados ao culto (liturgia), ao ministério (homens e mulheres) e à defesa da natureza, enquanto a Roma, como primeira entre iguais, competiria assentir e confirmar. Trata-se de ideal que beira à utopia; todavia, é ela que, como diria o poeta uruguaio Eduardo Galeano, serve de estímulo no horizonte para nos fazer caminhar.

Referências bibliográficas

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BALLOUSSIER. Anna Virginia. Padres mais velhos puxam aumento de clérigos no país. Folha de S. Paulo, São Paulo, 7 maio 2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/05/padres-mais-velhos-puxam-aumento-de-clerigos-no-pais.shtml>. Acesso em: 20 ago. 2018.

CONFERÊNCIA EPISCOPAL LATINO-AMERICANA (CELAM). Documentos do Celam: Rio de Janeiro, Medellín, Puebla, Santo Domingo. São Paulo: Paulus, 2004.

DAMIAN, Edson Tasquetto. Una Chiesa dal volto amazzonico. Settimana News, Bologna, 3 Iuglio 2018. Disponível em: <http://www.settimananews.it/chiesa/chiesa-dal-volto-amazzonico/>. Acesso em: 10 jul. 2018.

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LOBINGER, Fritz. Padres para amanhã: proposta para comunidades sem eucaristia. São Paulo: Paulus, 2008.

Reuberson Ferreira
Reuberson Ferreira, msc, é religioso e padre da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração. Mestre em Teologia, trabalhou cinco anos no Amazonas, na Diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM). Atualmente é pároco e reitor do Santuário Nacional de Nossa Senhora do Sagrado Coração em São Paulo (SP).


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