4/09/2018 – Sei quem tu és! (Lc 4,31-37)
Esta frase, no Evangelho de hoje, sai exatamente da boca de um demônio. Devíamos espantar-nos com isto: o próprio espírito mau reconhece a divindade Jesus Cristo: “Sei quem tu és: o Santo de Deus!”
São Tiago o confirmará, ao dizer: “Crês que há um só Deus? Fazes bem. Também os demônios creem e temem”. (Tg 2,19.) Se o apóstolo queria dizer que a fé que se proclama deve ser acompanhada de obras em coerência com a fé, também podemos concluir que é preciso mais do que “crer” em Jesus: é preciso amá-lo, e não viver a combatê-lo, como fazem os demônios…
O verdadeiro ato de fé acaba coroado por uma entrega a Deus, por um compromisso de vida na difusão da Boa Nova, por uma vida posta sobre o altar, quando nós nos tornamos hóstias vivas em unidade com o Cordeiro pascal. Até lá, nossa fé permanece como uma espécie de noção intelectual, um abstrato exercício da mente. Mas ainda lhe falta algo de essencial para se transformar em vida cristã…
A palavra “fé” (do latim, fides) é inseparável da “fidelidade”. O verdadeiro crente é um “fiel”. Significa isto que ele empenha a palavra – uma espécie de juramento ou profissão pública –, mas também empenha a vida, subindo ao patamar do testemunho (ou seja: mártir). Neste sentido é que os primeiros cristãos, ao pedirem o Batismo, já se declaravam prontos para o martírio!
Voltando à frase do espírito mau, não seria imprópio avaliar que ele tivesse alguma dúvida a respeito da verdadeira identidade de Cristo, enquanto Filho de Deus, e criasse certas situações, tentando forçá-lo a se revelar como tal. Nos primeiros séculos do cristianismo, um Padre da Igreja chegou a defender a necessidade da presença de José, junto a Maria de Nazaré, para que Satanás não conhecesse o mistério de sua concepção virginal, na Encarnação do Verbo.
De qualquer forma, nós devemos nos sentir interpelados em nossa fé. Seríamos nós, os batizados, aqueles que ainda alimentariam dúvidas no coração a respeito de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, Filho de Deus encarnado?
No mesmo dia em que escrevo esta reflexão, leio nos jornais que o governo da China acaba de prender mais um bispo católico. Estou certo de que este Bispo – Julio Jia Zhiguo, 70 anos – também sabe quem é Jesus. Já passou 20 anos no cárcere e continua fiel, mesmo sob perseguição.
E nós? Já sabemos quem é Jesus Cristo?
Orai sem cessar: “Vossa Palavra é uma luz em meu caminho!” (Sl 118,105)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
3/09/2018 – Aos pobres me enviou! (Lc 4,16-30)
Desde o Antigo Testamento, as promessas falavam de um Messias que seria enviado aos pobres, acudindo aos órfãos, às viúvas e ao estrangeiro (cf. Is 1,17; 66,2; Os 14,3). Neste Evangelho, Jesus de Nazaré acaba de anunciar a seus compatriotas que chegou o “ano da graça do Senhor”, oferecido “de graça” aos pobres de Yahweh.
Em lugar de júbilo e alegria, a reação de seus ouvintes é de ira e furor. Certamente, não se sentem pobres. Não era para eles a antiga profecia… As promessas falavam de um Messias que seria enviado aos pobres, acudindo aos órfãos, às viúvas e ao estrangeiro (cf. Is 1,17; 66, 2; Os 14,3). No entanto, quando se anuncia a ternura de Deus pelos pobres, até a classe média (que não é rica, a rigor) se sente incomodada. Talvez não se sintam pobres… E por isso, sentem-se excluídos…
Ora, somos todos pobres. O rico que não tem fé é pobre. O pobre que se revolta com sua pobreza, também é. O idoso que vai perdendo a força e a saúde, eis o pobre! O milionário que só conta consigo mesmo, como é pobre! Se o pobre que confia em Deus é rico, o homem rico que se tranca a sete chaves com medo do ladrão, pobrezinho!… Frei Raniero Cantalamessa fala de “ricos no tempo e pobres na eternidade”, quando nossos tesouros são apenas as riquezas que passam, e não os valores eternos. Dinheiro, terras e fama, tudo leva o tempo. Só o amor de Deus permanecerá conosco…
Ouvir que Jesus veio para anunciar a Boa Nova aos pobres devia nos encher de alegria e de gratidão! Afinal, não podemos salvar a nós mesmos. Não há boa obra que possa comprar-nos o céu. A salvação será sempre um dom gratuito que manifesta a misericórdia, o “louco amor” de Deus por nós. Assim sendo, somos pobres: é sobre nós que se derrama o rico amor de Deus.
Já é tempo, pois, de mudar de mentalidade! Nós somos todos pobres. Somos miseráveis. E é exatamente a nossa miséria que “faz cócegas” na misericórdia de Deus. Nossa miséria atrai seu olhar de compaixão. Jesus deixou isto bem claro: quem precisa de médico é o doente; ele não veio para os “justos”, mas para os pecadores…
Assim comenta a Bíblia de Navarra: “Por ‘pobres’ deve entender-se, segundo a tradição do AT e a pregação de Jesus, não tanto uma determinada condição social, mas antes a atitude religiosa de indigência e de humildade diante de Deus dos que, em vez de confiar nos seus próprios bens e méritos, confiam na bondade e na misericórdia divinas”.
Orai sem cessar: “Senhor, o fraco se entrega a ti!” (Sl 10,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
2/09/2018 – Seu coração está longe! (Mc 7,1-8.14-15.21-23)
Neste Evangelho, Jesus estabelece um nítido contraste entre o lado de fora (os lábios) e o lado de dentro (o coração). Aquilo que se manifesta exteriormente (as palavras) e aquilo que se oculta no íntimo do ser (os sentimentos e intenções). O que aflora em nós e o que permanece em segredo.
Ora, o grande mandamento não falava de amar a Deus com palavras, com os lábios, mas trazia um imperativo exigente: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todas as tuas forças!” (Dt 6,4) É nossa pessoa integral que se consagra a um amor tão exigente!
Jesus reage às acusações dos fariseus, que apontam no comportamento dos discípulos algumas quebras rituais de preceitos relativos à higiene ou “pureza” alimentar. A correção do Mestre aponta para uma hierarquia de valores: conta mais a alma, os impulsos do coração, do que o cumprimento de rituais exteriores. Em sua pretensão de legalidade, os fariseus acabarão – como diz Jesus – coando as moscas e engolindo os camelos…
Não quer dizer com isto que os sinais externos não tenham nenhum valor, mas que seu valor deriva da coerência entre o lado de fora (gestos e palavras) e o lado de dentro (amor e obediência à Palavra de Deus). Tão ciosos de cumprir os preceitos mosaicos, os fariseus não acolheram o Messias que Moisés anunciara…
Este enquadramento da vida espiritual ajuda a entender que muitos santos, em seu dia-a-dia, fossem pessoas que manifestavam defeitos bem comuns, como impaciências, temperamentos ásperos, fragilidades de todo tipo. No entanto, sua santidade não se baseava em aparências: lá dentro – “no coração”, para usar uma expressão bíblica – lutavam permanentemente contra esses impulsos do homem natural e faziam grandes esforços para corresponder à graça de Deus, pondo-se a serviço do Reino de Deus, servindo a Jesus na pessoa do próximo. Nestes santos, a consciência de serem pecadores estava sempre acima de qualquer aparência de perfeição…
Enfim, Deus lê o nosso coração. Jesus “sabe o que há no homem” (cf. Jo 2,25). Seria insanidade de nossa parte simular uma santidade que não vivemos, tentando aparentar um grau de perfeição que não resiste a qualquer análise, mas se faz apenas de aparências e máscaras. Entre o santo e o beato, há uma enorme distância…
Orai sem cessar: “Senhor, conheceis até o fundo a minha alma!” (Sl 139,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
1º/09/2018 – Uma cova na terra… (Mt 25,14-30)
Os coveiros cavam covas para enterrar os mortos. Quando a alma deixa o corpo, este é devolvido à terra, sem vida, incapaz, agora, de frutificar…
Os dons de Deus, ao contrário, são coisa viva, não podem ser enterrados, cobertos de entulho, mas devem ser trabalhados operosamente para que deem fruto e seu Senhor seja glorificado. Deus quis depender da ação humana!
Neste Evangelho, Jesus narra a parábola dos “servos desiguais”. Três servidores do mesmo Senhor, cada um com a sua capacidade. E cada um deles acolhe um “investimento” de seu Senhor, na medida exata de sua capacidade.
Claro, não há investimento sem risco. O primeiro recebeu cinco talentos e arrisca tudo: trabalha para o benefício do mestre e acaba lucrando outros cinco talentos. O segundo, ao receber dois talentos, trabalha também na medida de sua capacidade e lucra outros dois, aumentando um pouco mais o capital do Senhor.
O terceiro é diferente. Não quer correr riscos. Sua segurança conta mais que o benefício de seu “patrão”. Aliás, ele conhece muito bem o seu “patrão”: vê-o como um homem duro, a ponto de colher o que não plantou, recolher o que não semeou. Assim, é mais seguro, sem riscos, enterrar o único talento recebido e esperar a hora de devolvê-lo, quando o patrão voltar da viagem.
Muito tempo depois (notem aqui a paciência do Senhor, à espera de nosso compromisso!), volta o Senhor e faz o acerto de contas. Aos dois primeiros, elogia e gratifica. Deverão participar da alegria do Senhor. Já o terceiro, ao devolver sujo de terra o talento estéril, sem conseguir disfarçar seu desinteresse pelos “negócios” do Senhor, ouve dele uma frase de condenação: “Servo mau e preguiçoso!”
No mínimo, aprendemos que a preguiça é um mal. Que somos maus se não fazemos frutificar os dons recebidos gratuitamente de um Senhor que se alegra em nos fazer participantes da edificação de seu Reino de amor. Que a omissão não é diferente do crime intencional. Afinal, diante do mal, quem cala… consente… Mas o escândalo dos maus ainda vai aumentar: o Senhor manda que se recolha o único talento do preguiçoso, entregando-o àquele que já possui dez talentos.
Que faria você? A quem confiaria os seus talentos? Ao preguiçoso? Ou àquele que – tudo indica – se dedicará de alma e coração a ampliar o Reino de Deus?
Orai sem cessar: “Trabalhai pela comida que dura eternamente!” (Jo 6,27)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
31/07/2018 – O campo é o mundo… (Mt 13,36-43)
Pela forma como o próprio Jesus “traduz” sua parábola do joio e do trigo, podemos considerá-la uma alegoria, já que seus vários componentes possuem simbolismos individuados. Temos um semeador, Jesus. Temos a boa semente, os filhos do Reino de Deus. Temos o joio, os que pertencem ao maligno. Teremos, no fim dos tempos, os segadores da colheita: os anjos de Deus.
Hoje, vamos centrar nossa reflexão no “campo” que recebe a dupla sementeira (bem e mal). Este campo é o mundo: um espaço-tempo onde decorre a história da humanidade. Ele nos é apresentado como terra a ser semeada até um desfecho, quando ocorrerá a separação entre joio e trigo.
Os apressados querem fazer JÁ essa separação, sem levar em conta que as duas plantas, quando pequenas, são praticamente idênticas, e inevitavelmente o trigo seria arrancado com o joio. Cuidado, pois, com a atitude impaciente que cobra de Deus uma intervenção imediata, não sabendo conviver – por enquanto – com o joio entre nós. E, claro, dentro de nós também…
Não forçamos a interpretação se dizemos que o Reino dos céus já tem seu germe no reino deste mundo. Tampouco se afirmamos que ele deve crescer, após ser semeado, no decorrer da história, até “amadurecer” o suficiente para a colheita final.
Nesta visão, o provisório (a Criação temporal) já traz em segredo, ocultamente, as sementes da eternidade. E este mesmo mistério inclui a possibilidade de o trigo se corromper em joio, bem como de o joio ser transfigurado em trigo. O santo e o pecador vivem um dinamismo que permite a degradação e a regeneração até o último instante da história. Basta lembrar que grandes santos foram grandes pecadores… e reconhecer que todos nós caminhamos sobre um fio de navalha, do qual certamente cairemos sem o sustento da graça divina.
Quando Jesus convocou seus discípulos, ele o fez com a intenção de que se tornassem, também eles, semeadores no campo do mundo. A missão pessoal do Salvador é estendida à Igreja, “uma humanidade de acréscimo” a Cristo.
Enquanto isso, os moralistas protestam contra a insuportável presença do joio. Os céticos afirmam que “tanto faz”. O evangelizador consagra sua vida a semear a boa semente. Em que time está você?
Orai sem cessar: “Quem semeia entre lagrimas colherá com alegria.” (Sl 126,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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