Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Carvões em brasa… (Jo 21,1-14)

6/04/2018 – Carvões em brasa… (Jo 21,1-14)

Anoitecia no lago. – “Eu vou pescar!” – diz Simão Pedro. Os outros dizem: – “Nós vamos contigo”.

Mas não estes homens a quem Jesus tinha mudado de pescadores de peixes em pescadores de homens? (Cf. Lc 5,10) Então, por que este impulso de voltar ao passado, como se sua experiência com Jesus fosse apagada com o drama do Calvário?

Algo me diz que eles ficaram frios com a morte de seu Mestre. Selada a pedra, deposto o cadáver, também eles morreram um pouco. Apagara-se o ardor que chegava ao ponto de se disporem a morrer por Ele (cf. Mt 26,35)…

Quando o dia amanhece, as redes vazias, um desconhecido na margem do lago indica o lugar onde se escondia o grande cardume, e eles pescaram 153 grandes peixes. Agora, os pescadores desiludidos já sabem que se trata do Senhor, que os convida a comer. Quando descem para a areia, os discípulos percebem que Jesus já tinha preparado uma fogueira, um fogo de brasa [no texto grego, anthrakian, carvões em brasa].

Precisa ser mais claro? Nós somos frios. Desanimamos fácil. Temos preguiça de insistir, persistir, resistir. Somos de fato carvões apagados. Somente na presença de Jesus o nosso coração voltará a arder e então seremos capazes de responder à tríplice pergunta: – “Tu me amas?”

Não era a primeira vez que Simão Pedro se encontrava diante de carvões em brasa. No jardim do Sumo Sacerdote, na noite fria da prisão de Jesus, o velho pescador também se aquecia junto à fogueira, junto aos servos e aos guardas (cf. Jo 18,18). É a mesma palavra grega: antrakian. O mesmo fogo de brasa. E ali ele negara três vezes o seu Mestre. Mas o Senhor sempre nos dá uma nova oportunidade. Jesus sempre acenderá uma fogueira nova, um novo ânimo, um novo batismo de fogo.

Agora, na praia fria, Pedro encontra nova fogueira previamente preparada e, nela, um peixe que ele mesmo não tinha pescado. Os cristãos primitivos identificaram a figura do peixe com a Eucaristia – isto se vê nas catacumbas, nos templos antigos. É nesta refeição “com Jesus” que o peixe e o pão (cf. Jo 21,9) revigoram nossas forças e socorrem nossa fraqueza.

– “Venham comer!” – convida o Senhor. Não se trata de um preceito a cumprir. Não se trata de mera “cerimônia”. Ao contrário! Jesus nos chama a nos aproximarmos “sem cerimônia” para comer do peixe e do pão aquecidos pelas brasas. É com esse fogo – somente com ele – que iremos abrasar de novo o mundo e a Igreja.

Orai sem cessar: “Diante do Senhor caminha o fogo…” (Sl 97,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.