Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Como um jardim irrigado… (Jr 31,10-13)

30/09/2017 – Como um jardim irrigado… (Jr 31,10-13)

No coração do homem, pulsa permanente nostalgia. Mesmo que não saiba disso, ele tem saudades do Jardim. Como se lê no Gênesis (2,8), o Senhor Deus modelou na argila o primeiro homem, plantou “um jardim no Éden, no Oriente, e ali colocou o homem”. No capítulo seguinte, ocorre a Queda que está na origem desta saudade: seduzido e enganado, Adam, o “barroso”, vê o Jardim fechado, fora de seu alcance, portões guardados por querubins de gládio flamejante.

O tema do “Paraíso Perdido”, a terra das delícias, a Xangri-La onde ninguém envelhece e todos são felizes, atravessaria os séculos, na literatura e no cinema, desde John Milton até James Hilton. Mais que mera ficção, este Jardim está bem vivo no inconsciente coletivo da humanidade: é o lar primitivo para onde deverá regressar quando as coisas voltarem ao seu lugar de desígnio.

Foi no jardim que Adão tomou consciência de sua nudez. Foi no jardim que Deus costurou para ele uma cintura de couro, a mesma veste de misericórdia que os profetas iriam usar (cf. 2Rs 1,8). Enquanto esse jardim não lhe for reaberto, o homem será atenazado por essa nostalgia.

Ora, as promessas de Deus incluem esse retorno à Fonte. Na Bíblia, o jardim é símbolo de um lugar privilegiado, espaço da presença divina que tudo fecunda e regenera. O mesmo local da degeneração humana será o lugar da regeneração. Na profecia de Isaías, “o Senhor tem piedade de Sião, tem piedade de suas ruínas. De seu lugar desértico ele fará um Éden e de sua estepe o jardim do Senhor”. (Is 51,3)

No “Cântico dos Cânticos”, esse poema sinfônico sobre a Aliança-casamento entre Deus e a Humanidade, o jardim fechado é imagem da Virgem que só abrirá as portas para seu Amado: “Tu és um jardim fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente fechada, uma fonte selada! Teus rebentos são um jardim de romãs com frutos escolhidos. […] A fonte dos jardins é como um manancial de água corrente…” (Ct 4,12-13.15)

Mas existe outro jardim que não pode ser esquecido. Foi no Jardim das Oliveiras que da Fonte da Salvação brotaram gotas de sangue e água (cf. Lc 22,44) que cresceriam em rio na cruz do Calvário (cf. Jo 19,34). Assim fertilizado, o Jardim foi reaberto a todo aquele que crê. Nele, “ouvir-se-ão gritos de entusiasmo e de alegria, na ação de graças, ao som da música.” (Is 51,3c)

E como disse Jesus, “meu Pai é o agricultor… meu Pai é o jardineiro…” (Jo 15,1)

Orai sem cessar: “Venha o meu Amado ao seu jardim…” (Ct 5,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.