Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Incapaz de olhar para cima… (Lc 13,10-17)

26/10/2015 – Incapaz de olhar para cima… (Lc 13,10-17)

Mais uma vez, Jesus realiza uma cura física em pleno dia de sábado, o único dia da semana judaica que proibia trabalhos braçais, como… a medicina! Sim, lembrar que a palavra “cirurgia” [do grego cheiro = mão; urgia = trabalho] significa “trabalho manual”. O trabalho dos médicos daquele tempo era considerado trabalho braçal.

Seu ato de compaixão gera de imediato a crítica e a reprovação do chefe da sinagoga. Prontamente, Jesus lembra aos presentes que um boi ou um burro caído na vala – mesmo em dia de sábado! – seria logo retirado do buraco. Natural, ouvindo Jesus, o povo se divertia com a “saia justa” de suas lideranças religiosas…

Vejam bem: o boi não pode esperar; o jumento não pode esperar; a mulher podia esperar… É assim que Jesus de Nazaré desmascara os preceitos e preconceitos dominantes na sociedade humana. É que deixar na vala um animal até o dia seguinte poderia causar prejuízos materiais. Já essa infeliz aleijada, tanto faz…

Mas eu vejo um traço de união entre as três personagens deste Evangelho: o boi só olha para baixo; o burro só olha para baixo; a entrevada não podia olhar pra cima. Ao curar a mulher, Jesus permite que ela volte a olhar para o céu.

Não é este o grande problema de nosso tempo? A multidão não olha mais para cima. Nada se espera do céu (e “céu” é a palavra que usamos para não gastar o nome santo de Deus). Nossas expectativas estão ao nível do chão. Estamos todos olhando “para baixo”: a cotação do dólar, o preço do tomate, o aumento do salário, a rentabilidade da poupança, o aumento das vendas, os índices de audiência, o número de dizimistas…

Olhar para o céu significa “esperar de Deus”. Esperar da Graça. Esperar daquele que faz chover sobre justos e injustos (cf. Mt 5,45), independentemente de seus méritos. Esperar como o povo simples que repete a frase de Abraão: “Deus proverá”. (Gn 22,8)

Contemplo a multidão que desce as escadas, ao final da missa de domingo. Estarão felizes? Voltam para casa cheios de esperança? Ouviram mais uma vez que podem olhar para o céu e terão suas necessidades atendidas por um Deus que é Pai?

Orai sem cessar: “Para ti, Senhor, levanto os olhos!” (Sl 123,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.