Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Lavar-me os pés?! (Jo 13,1-15)

29/03/2018 – Lavar-me os pés?! (Jo 13,1-15)

Carregada de incontida emoção, a frase expressa todo o espanto de Simão Pedro. O que Jesus lhe propunha, ao final da Ceia, constituía uma inaceitável inversão de posições: o servidor é quem deve lavar os pés do seu Senhor. Não o contrário, como Jesus se dispõe a fazer.

Claro que Jesus, o Mestre do amor, tinha acima de tudo uma intenção pedagógica. Tratava-se de oferecer um modelo de comportamento a ser imitado a seguir: “Assim também vós deveis lavar os pés uns aos outros.” (V. 14) Daí em diante, o espírito de competição, a volúpia de mando e a busca de honrarias já não teria cabimento entre os seguidores de Jesus…

É fácil perceber que, naquele momento da Última Ceia, Pedro não pôde compreender o aparente absurdo. Somente mais tarde, ao morrer crucificado como seu Mestre, o velho pescador mostraria a todos que tinha chegado a compreender. Também a fé precisa de tempo…

No Ícone oriental do Lava-pés, Jesus tem a toalha e a bacia. Onze dos apóstolos são figurados sem as sandálias, isto é, estão prontos a aceitar o gesto imprevisto de Jesus. Somente Judas Iscariotes se mantém calçado: ele recusa que Jesus lhe lave os pés, pois previamente decidira não corresponder a esse amor humilde… E a humildade de Jesus é muito exigente…

Meditando este Evangelho, compus o soneto “Lava-pés”, na Quinta-feira Santa de 2004:

Senhor Jesus, tu vens lavar-me os pés

Manchados de poeira e de pecado?!

Não vais ficar também emporcalhado,

Tu que és mais puro do que o aloés?

 
Lavas meus dedos! Sabes bem: são dez…

Com eles caminhei no rumo errado

E, dos Dez Mandamentos afastado,

Acabei prisioneiro das galés…

 
Jesus, sem ter pecado, sem ter falha,

Tu prendes na cintura uma toalha,

Enchendo de água pura uma bacia…

 
E, depois de lavar-me do meu crime,

O teu Sangue de novo me redime

E vem lavar minh’alma todo dia…

Orai sem cessar: “Lava-me por completo da minha iniquidade!” (Sl 51,4)

Texto e poema de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança