Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Minha mãe e meus irmãos… (Mt 12,46-50)

21/11/2017 – Minha mãe e meus irmãos… (Mt 12,46-50)

Jesus aponta a multidão à sua volta e diz: “Eis minha mãe e meus irmãos!” Como posso fazer parte da família de Jesus? Ora, é simples: basta viver como filho do Pai. Se eu obedeço a Deus – o Pai de Jesus – e faço sua vontade, vivo como filho e, em consequência, sou familiar de Jesus.

Se alguém pensou, eventualmente, em utilizar esta passagem do Evangelho para desmerecer a Mãe de Deus, deu-se mal: exatamente ela, Maria de Nazaré, é o modelo perfeito e acabado do fiel que faz a vontade do Pai. E ela obedeceu a essa mesma vontade divina de modo tão integral, que gerou o Filho na carne dos mortais. Ninguém mais chegou tão alto na obediência…

Mas o foco desta passagem é outro. Jesus nos ensina que os laços de sangue são menos importantes que a suave escravidão aos desígnios de Deus. Em outros termos, a obediência ao querer de Deus é um vínculo que supera sem medidas os laços de sangue. O resultado dessa constatação está inscrito na própria história da Igreja. Ao longo das gerações, século após século, uma incontável legião de fiéis abandonou casa e família, títulos de nobreza e garantias materiais para se dedicar à missão que o Senhor lhes apresentava. E o faziam com estranha alegria…

Pense em Francisco, o menestrel de Assis, que preferiu cortar relações com o pai e seus projetos de lucro e acumulação para se entregar de corpo e alma ao chamado de Cristo. As sedas e brocados deram lugar ao áspero burel cor de barro que atrairia numerosos seguidores em toda a Europa. A opção de Francisco culminou com a ira do pai humano, que o deserdou. Era esta a maneira de o “Poverello” deixar bem evidente sua filiação divina, sua pertença à família de Deus.

Sua amiga Clara, da família nobre dos Offreducci, poderia ter escolhido um marido da mais excelente linhagem de sua época. A exemplo de Francisco, Clara de Assis preferiu abrir mão da força política de seu clã, da admiração de seus contemporâneos e até de seus cabelos cor de ouro. Era a sua maneira de consagrar-se a Deus e manifestar claramente que a família do céu importava muito mais que a família da terra.

Voltando a Maria de Nazaré, a jovem estava prometida em casamento a José. Na Anunciação (cf. Lc 1,26ss), diante da proposta de Deus que Gabriel lhe apresentava, Maria disse “sim”, mesmo sabendo que a gravidez humanamente inexplicável a transformaria em ré, sujeita à morte por lapidação. Não encontro exemplo mais claro de uma escolha feita entre os laços de sangue e a vinculação plena à vontade de Deus.
Orai sem cessar: “Que eu cumpra tua vontade, meu Deus. É isto que desejo!” (Sl 40,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.