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Se meu Pai não o atrair… (Jo 6,44-51)

19/04/2018 – Se meu Pai não o atrair… (Jo 6,44-51)

Nosso Deus é um grande sedutor. Ele não se contenta em chamar, mas atrai, seduz, magnetiza até o ponto de a pessoa sentir-se torturada em sua resistência ao amoroso abraço do Pai. Santo Agostinho foi exemplar ao descrever essa espécie de “saudade de Deus” que envolve o coração humano.

Neste Evangelho, repete-se o “jogo de gato e rato” entre Jesus e seus ouvintes. Tal como no tempo do Êxodo (cf. Ex 15 a 17), os judeus do tempo de Jesus também se entregam às murmurações. Tal como em português, o verbo grego empregado pelo evangelista João também soa como onomatopeia: gogguyzo. O Mestre ensina, esclarece, dá sinais, mas eles estão obstinados à aparência das coisas, sem lhes penetrar o sentido profundo: “Não é ele o filho de José? Como ele diz que desceu dos céus” E permanecem longe de reconhecer o Filho de Deus…

E Jesus explica o impasse: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai”. André Scrima comenta a passagem: “A fé em Jesus não é somente uma obra não humana, mas ela acontece em decorrência da atração do Pai. Tal é o agir do Pai: atrair os homens para o Filho encarnado no mundo. A única verdadeira via para ir a Jesus é aquela que acontece pelo agir sobrenatural do Pai. Está escrito nos profetas: ‘todos os teus filhos serão instruídos por Deus’. (Is 54,13)”

“A aliança que Deus concluiu com o povo eleito – prossegue Scrima – tem por finalidade fazê-lo acessar outra aliança, superior, uma aliança nova e completa, na qual ‘cada um não instruirá mais o seu vizinho ou seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor!’ De fato, todos me conhecerão’ (Jr 31,31-34); e esta obra será Aquele que Deus enviará e dele nascerá. Ora, apesar desta obra que se completa com a vinda de Jesus até eles, os judeus não o quiseram receber diretamente de Deus, mas pela interposição dos profetas e dos rabinos instruídos.”

Como explicara a incredulidade dos contemporâneos de Jesus? Apesar de todos os sinais, eles não conseguem admitir a origem divina de Jesus, pois esta é objeto da fé concedida pelo Pai, e não brota da simples visão humana. Como observa Louis Bouyer, “o movimento que leva o homem para Cristo, como aquele que impeliu o Filho a se encarnar para ir ao homem, é operado pelo Pai. É pelo próprio ensinamento que o Pai dá aos homens que estes são conduzidos a seu Filho”.

Maravilhosa operação da Trindade que ama o homem e quer salvá-lo. Quando veio o Espírito de Pentecostes, os apóstolos penetraram neste mistério (cf. Cl 1,26).

Orai sem cessar: “Eu os atraía com laços de amor…” (Os 11,4)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.