Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Teu Pai, que vê o escondido… (Mt 6,1-6.16-18)

21/06/2017 – Teu Pai, que vê o escondido… (Mt 6,1-6.16-18)

Ah! Os olhos do Pai… Nada escapa ao seu olhar!

Pena que esta visão onisciente de Deus tenha sido usada para impor medo e terror! Na escola primária, anos 50, nossas aulas de religião consistiam unicamente em copiar um desenho que a professora fazia no quadro negro. Lembro-me claramente de um deles: um muro, logo atrás uma casa, e mais no fundo uma árvore carregada de frutas maduras; dois moleques pulavam o muro e, no alto, erguia-se um grande triângulo com um olho no centro.

Era o olho de um Deus vigilante, pronto a punir e castigar os pecados infantis. Detalhe: todos os desenhos, o ano inteiro, traziam o mesmo triângulo ameaçador…

A frase implícita – “Deus me vê” – ficava sempre incompleta. Ninguém nos dizia: “Deus me vê e… me ama!” Ninguém se lembrava de citar a Sagrada Escritura: “Senhor, vós me perscrutais e me conheceis… vós me cercais por trás e pela frente, e estendeis sobre mim a vossa mão… Vós me tecestes no seio de minha mãe…” (Salmo 139)

O olhar do Pai, que vê em segredo, enxerga o que sou e o que posso ser. Deus olha o pecador atual e o santo possível. E aqui está o ponto central deste Evangelho: Deus não se perde em aparências. Ele não gasta tempo com gestos exteriores, mas penetra o âmago do ser.

Conclusão: precisamos pedir a graça de olhar o mundo com os olhos de Deus. Contemplar o horizonte das nações, o cenário do Brasil, as pedras de nossa rua, sentindo – e re-sentindo – o mesmo amor cuidadoso e responsável que pulsa no coração do Pai.

A partir daí, iremos pouco a pouco libertando-nos de uma religião apenas aparente, feita de gestos sem alma, cumpridos apenas para… “cumprir”… Não uma religião de “preceitos” e normas, mas uma vida de amizade com Deus e serviço ao próximo.

Com os olhos de Deus, veremos presídios e escolas como campos de missão, paróquias e fábricas como sementeiras do bem, diplomas e títulos como ferramentas do amor.

Com os olhos do Pai, não julgaremos ninguém pela aparência, pela roupa surrada, pelo esmalte descascado, pelo calcanhar rachado. Olhos de Pai veem filhos em toda parte…

Orai sem cessar: “Senhor, todos os olhos se dirigem para vós!” (Sl 145,15)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.