Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Todos ficaram furiosos… (Lc 4,24-30)

5/03/2018 – Todos ficaram furiosos… (Lc 4,24-30)

Na cena narrada pelo evangelista Lucas, Jesus estabelece um curioso contraste. De um lado, a pobre viúva de Sarepta e o general sírio Naamã. Síria e Sidônia eram regiões “pagãs”, consideradas impuras pelos israelitas. De outro lado, a sinagoga de Nazaré, reunindo os herdeiros das promessas de Deus ao Povo escolhido, um status que os levava a olhar com arrogância todos os povos estrangeiros.

Sarepta ficava na antiga Sidônia, hoje Líbano, terra dos fenícios pagãos, fabricantes de púrpura e adoradores de Astarte, uma abominação para os judeus. A Síria também era região dos goyim, os não-povo, que adoravam Remon, outro ídolo abominável. No entanto, foi para a faminta viúva estrangeira que o Deus de Israel enviou o profeta Elias (cf. 1Rs 17). E foi exatamente o leproso Naamã, um goy, que recebeu a cura divina, sob a orientação do profeta Eliseu (cf. 2Rs 5).

Não. Não é por acaso! Jesus “força a barra” intencionalmente! Ele faz uma tentativa quase desesperada de libertar seus ouvintes do orgulho nacional que acabara por fechar o coração deles ao arrependimento e às graças de Deus. Os dois exemplos de estrangeiros acolhidos por Deus, sensível à fome da viúva fenícia e à lepra do general sírio, deviam levar a assembleia daquela sinagoga à reverência diante da ação de Deus e da gratuidade dos feitos divinos para com toda a humanidade.

Ao contrário, os moradores de Nazaré preferem torcer o nariz à mensagem que acabam de ouvir de Jesus, conhecido por eles como um simples carpinteiro. Conhecido demais, na verdade, para ser ouvido como profeta. Nada em Jesus oferecia matéria para deslumbramentos e louvores. Assim, em vez de gratidão pelos privilégios recebidos, os galileus preferem babar de ódio.

Também a nós Deus vem falando todos os dias. Claro, nada de espetacular como anjos tocando trombetas de ouro nem aparições luminosas ou danças do sol no azul do céu. Deus fala simples e pequeno, humildemente. Deus fala pelos mais próximos. Fala pela mãe que aconselha. Fala pelo pai que adverte. Fala pelo professor que corrige. Fala até pelas manchetes do noticiário…

Será que continuaremos a desperdiçar as oportunidades que Deus nos dá? Será que imitaremos os despeitados de Nazaré? Afinal, Jesus tinha feito o primeiro milagre em Caná, logo ao lado de Nazaré, o burgo vizinho que sempre mereceu nossas zombarias. E isto é imperdoável…

Precisamos de novos milagres para acolher Jesus em nossa casa? Ou basta tudo o que ele fez por nós, ao doar seu sangue e sua vida?

Orai sem cessar: “Este pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu.” (Sl 34,7)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.