Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Da fazenda escravocrata para Vila Formosa – conhecida como Dona Zezé

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O título desta entrevista é o mesmo da de janeiro deste ano, afinal são pessoas da mesma família, viveram nos mesmos lugares e, até hoje, estão praticamente no mesmo endereço:

“Nasci, fevereiro de 1928, em Ribeirão da Onça, em Maristela, interior de São Paulo, também era conhecido como  Montevidéo. Meus pais sempre ficaram por lá. Minha irmã (Dona Nena) e eu, depois que casamos, sempre seguimos nossa sogra: moramos algum tempo em Laranjal Paulista, numa antiga fazenda de escravos, conhecida como “Fazenda dos Turcos”, depois fomos para Maringá, no Paraná, retornamos para a fazenda dos Turcos, depois para Piracicaba e finalmente São Paulo capital, conta Maria José Alves Lima, mais conhecida como Dona Zezé.

devotos3No auge de seus 85 anos, continua bem animada e, juntamente com suas filhas Dita, Fia e Regina, tivemos um bom papo: “Tive nove filhos sobreviventes. Outros morreram. Como tinha de cuidar dos filhos, demorei muito a ajudar nos trabalhos da igreja, na verdade, fui levada pela Fia, que já participava há algum tempo”, relembra D. Zezé. “Eu nasci no interior, era muito pequena quando cheguei em São Paulo. Na época, devido as roupas que usavam, chamávamos os padres de ‘padres das roupas pretas’.

Eles passavam por aqui, normalmente de bicicleta, e nos levava para uma capelinha próximo da Vila Rica. Mas quem me levou e incentivou mesmo a ir no santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração foi a tia Tuga (dona Nena). Participei do “grupo das virgens”, “das cruzadas” e das ‘Filhas de Maria’,” acrescenta Edna Aparecida Alves de Lima, conhecida como Fia.

Quando chegaram no bairro, era tudo ainda muito precário: “quando chegamos não tinha boa distribuição de eletricidade por aqui. Então usávamos emprestado de uma vizinha, da dona Maria Godino. A água era de bomba”, lembra Maria Benedita Alves de Campos, conhecida como Dita. “Como não tinha asfalto, havia muita poeira.

Por sermos negras, nossas pernas eram muito ‘russas’. Então passávamos vaselina para mudar a cor. Quando chegávamos no Santuário, misturava a vaselina com a poeira vermelha e imagina a cor que ficava o pano que levávamos para limpar”, complementa Fia, sorrindo e acrescenta “nós tínhamos de levar sempre o terço, o véu e o livrinho”. Ainda por volta da década de 1970 começaram a ajudar na quermesse: “primeiro foi bolo e chocolate. Depois sopa, canja e canjica. Fazíamos  até 39kg de canjica. Eram feitos em caldeirões que levávamos, sobre a cabeça, para a quermesse lá no Santuário”, conta dona Zezé, e acrescenta “até hoje sou membro da Legião de Maria e do Apostolado da Oração”. “Eu sou membro da Legião e ajudo cantando em diversas celebrações, especialmente aqui na São José”, complementa Fia. “E eu ajudo num monte de coisas aqui na comunidade são José” acrescenta Dita. “E eu ajudo no Grupo dos Acólitos, dos Coroinhas,na liturgia e sou catequista, além de ajudar em outros trabalhos”, conclui Maria Regina Alves Lima.

devotos2Graças alcançadas? São muitas, mas destacam-se: “a primeira que nos despertou a devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração foi um acidente de caminhão. Não havia ônibus e o transporte coletivo era feito por caminhão. Aconteceu perto da praça Sampaio Vidal todos gritamos o nome de Nossa Senhora do Sagrado Coração e não sofremos nada” contam Dita e Fia. “Eu tinha os pés sempre frios e não havia meio de eles aquecerem.

Um dia implorei a ela e nunca mais tive este problema”, acrescenta Dita.

“A Sara teve tuberculose e naquela época era muito complicado. E logo depois eu tive uma pneumonia muito  forte. Até sangue pelo nariz eu soltava. Tive de ser internada. Imploramos a Nossa Senhora do Sagrado Coração e fomos curadas”, conclui dona Zezé.

Miguel Mota


“Dona: Carregue-me em seus braços” – Dona Cordélia

Com esta frase, uma devota de Nossa Senhora do Sagrado Coração sempre acorria a ela: “Nasci em Inhaúma, em 1945, interior de Minas Gerais, próxima a Sete Lagoas. Meus pais, Francisca e Raimundo, tiveram 11 filhos. Apenas um era homem. Mudamos para algumas cidades até que paramos um pouco em Paraguaçu (MG). Em 1961 viemos para São Paulo e fomos morar na antiga rua 92, hoje Av. Trumain. Chegamos em primeiro de setembro e no domingo seguinte já começamos a participar da missa aqui no santuário. Conta Maria Cordélia, uma das 10 filhas do casal.

No início, conheciam apenas a missa das 7h30. “Íamos todos juntos. Meus pais minhas irmãs e eu. Nosso único irmão ficou em Minas. Entrou no exército e lá permaneceu. Participávamos da primeira missa. Depois descobrimos que havia outras e então nos distribuímos, até por que a idade já nos permitia sermos mais livres. Embora nosso pai sempre tinha muito medo de nos deixar sozinhas, devido a violência que já existia naquela época…” rememora ela.

Permaneceram no primeiro endereço por cerca de 3 anos: “Uma amiga nossa que já morava em São Paulo comunicou nosso pai que tinha um empresa aqui que estava contratando. Então ele veio, alugou duas casas e transformou em uma. Nada que comparasse a que morávamos, pois lá havia 5 dormitórios grandes, uma sala e uma cozinha enormes. Onde encontra algo parecido aqui em São Paulo? Aqui, havia uma igreja evangélica próxima. Uma de nossas irmãs, Dorotéia, era freira beneditina. Uma vez veio e passou um mês com a gente. Pois não é que eles colocavam as caixas de som para fora e com som bem mais alto! Meu pai ficava muito bravo, mas não podíamos fazer nada…”, relembra sorrindo.

Por sinal, ainda com relação a irmã Dorotéia, conta: “certa vez, mamãe foi visitá-la no mosteiro. Ela adorou lá. Gostou tanto que falou com a madre ‘olha, tenho outras filhas lá. Se quiser, pode buscá-las também’. Ao voltar, quando nos contou, todas dissemos: ‘nada de vir buscar. Quem quiser, tudo bem. Não é assim, não!”, relembra às gargalhadas…

O trabalho de forma mais direta na igreja, não demorou muito a aparecer: “Pe. José Quirino, convidou-me para participar da Legião de Maria. Mas logo percebi que não era meu jeito. Logo que o Pe. Pedro Dingenouts criou o JOVIC, comecei a participar. A missa dos jovens era a das 10h30, mas quase não tinha jovens. Foi então que comecei a cantar e sempre gostei de participar da missa deste horário. O Pe. Geraldo foi um dos que mais animava nessa missa, ainda mais que ele a animava com uma guitarra”… rememora ela.

No início da década de 1970, sua vida mudou significativamente: “Além de cantar nas missas, eu ajudava também em diversos eventos. Sempre cantando. Quando fiquei grávida da Renata a primeira pessoa que procurei para contar foi o Pe. João Smits. Eu estava no terceiro mês, mas a barriga não aparecia. Ele apenas falou com firmeza: ‘você não está apertando a barriga com o cinto, está? Se estiver você vai para o inferno’. Claro que não estava. Ele me apoiou muito como muitas outras pessoas também. Claro que algumas até aconselharam que eu me afastasse. Nossa Senhora do Sagrado Coração sempre não só me acompanhou, mas me carregou no colo. Passei quatro meses em Minas, em Curvelo, na casa de uma de minhas irmãs. Pouco após dar a luz retornei a São Paulo, numa Sexta-feira Santa. Fui logo falar e pedir ao Pe. Pedro: ‘quero batizar a minha filha amanhã’. Ele respondeu perguntando: ‘amanhã de manhã?’. Não! Quero na missa da ressurreição. E já tem os padrinhos? Sim, respondi. Então está combinado. Depois fiquei sabendo que ele e o Pe. João Smits discutiram muito com os outros padres que eram contra”, relembra Cordélia.

Além sempre cantar, na década de 1990 foi também catequista, membro da Fraternidade MSC e Liturgia. Também foi zeladora da capelinha de Nossa Senhora do Sagrado Coração, função que assumiu após a morte de sua irmã Maria Candida.

Todos passamos por dificuldades. Porém, algumas são mais fortes: “Nossa Senhora sempre me carregou no colo. Três momentos marcaram muito minha vida na igreja. A primeira, quando da chegada do Pe. Vitório. Ele fez muitas mudanças, e nem sempre estamos preparados para entendê-las e vivê-las. A segunda foi na saída do Pe. Almir e chegada do Pe. Jorge. Também muitos conflitos nesta mudança. E, finalmente, quando da descoberta do câncer em meu pulmão. Fui visitar Nossa Senhora do Sagrado Coração e disse a Ela: ‘Olha dona, sei que seu Filho já caminha há muito tempo. Solte-o e pegue-me no colo. Estou precisando demais’. Após um mês e meio de quimioterapia, quando cheguei fui falar com ela. Não consegui. Só chorava, mas ela entendeu meus agradecimentos. Ela carregou não somente a mim, mas minha filha Renata também que sabia que eu tinha apenas um mês e meio de vida e não me falou nada. As pessoas amigas da Igreja foram o “Cirineu” que ajudou a Renata carregar esse peso”. Conta emocionada.

Sua maior emoção, foi na Festa da Padroeira em 2010: “A Renata pediu ao padre para que eu pudesse ir à procissão no carro de som, na frente, sentada com o motorista. Afinal eu não podia caminhar. Ele não autorizou. Ao contrário, eu podia ir em cima. Ao chegar no caminhão fui para entrar na frente. Ela me puxou e disse que era para eu subir. Nem sei como subi. Ou melhor, Nossa Senhora me puxou. Fui chorando. Lá em cima eu dizia: ‘mãe vou te agradecer fazendo o que sei fazer: cantar. E cantei e chorei a procissão inteira”… finaliza ainda mais emocionada.

Maria Cordélia, carinhosamente chamada de Dona Cordélia, nos deixou em 30 de maio de 2013. A entrevista foi concedida ao Jornal Santuário de Maria, em novembro de 2011.

Miguel Mota



Da fazenda para Vila Formosa – Marta e Zuleika

devotos4Retomando nossas entrevistas, neste mês conheceremos um pouco mais duas pessoas que nasceram no interior, vieram para a capital e ajudaram e/ ou ajudam nos trabalhos pastorais em nosso Santuário, especialmente na comunidade São José. “Nasci em novembro de 1943, em Laranjal Paulista, na Fazenda Santo Antonio, conhecida como “fazenda dos turcos”, mas na verdade eles eram sírio libaneses.

Esta era uma antiga fazenda de escravos”, conta Marta Maria Pires. “Eu também nasci na mesma fazenda, em agosto de 1947, vivi muito pouco tempo lá, pois em 1951, mudamos para Maringá, em 1955, em busca de melhores condições de vida”, complementa Zuleika Maria Pires Alves.

A matriarca era a avó, Alice Vaz de Almeida “era ela quem definia tudo. Onde moraríamos e trabalharíamos.

Aos sete anos eu ia à escola de manhã e à tarde trabalhava, inclusive com a enxada. Em 1951 ela decidiu que deveríamos ir para outra fazenda, no Paraná, em Maringá, onde permanecemos por quatro anos. Havia muita mão de obra e era fácil arrumar uma fazenda que pudesse contar com nosso trabalho. Mas em menos de um ano voltamos para Laranjal. E pouco depois mudamos para outra fazenda em Piracicaba, também interior de São Paulo” relembra Marta.

devotos2“Pouco depois nossa mãe, Maria Resolena Alves Pires, mais conhecida com Dona Nena, veio para São Paulo capital e ficamos em Piracicaba.

Ela trabalhava na casa de um médico que a ajudou muito.

Marta, mais tarde também veio. E, finalmente, nossa mãe disse ao patrão dela que precisa trazer a família para cá, pois ‘meu povo está sofrendo muito no interior’.

Ele ajudou e todos viemos morar aqui perto, no Tatuapé”, acrescenta Zuleica, emocionada.

O recomeço na capital não foi fácil. “Havia muito preconceito onde fomos morar. Éramos, na verdade, duas famílias grandes. Nós moramos com a vó numa garagem e a família da tia Zezé em outra. Nossa mãe conseguiu um empréstimo com o patrão dela e conseguimos comprar aqui onde estamos até hoje. Claro que ela queria mais perto da igreja, mas não foi possível, pois tinha que continuar todo mundo morando junto.

devotos5Mas estamos quase no meio entre comunidade São José e a igreja de Nossa Senhora do Sagrado Coração” rememora Marta. “E logo, como Marta, fui trabalhar como pajem também. Ela começou a trabalhar como costureira e eu, aos dezenove anos me casei e me mudei daqui. Elas sempre participaram muito da igreja e eu não muito.

Tanto que achava muito estranho quando vinha visitar e ao chegar elas saiam para a igreja”, conta Zuleica sorrindo.

Se Zuleica se casou e mudou, Marta seguiu se dedicando à igreja e ao trabalho: “Na segunda metade década de 1960 minha mãe me matriculou num curso de enfermagem. E eu morria de medo de defunto. Mas logo superei, formei-me pela Legião Brasileira de Assistência e fui trabalhar numa clínica na Vila Alpina. Em 1975 fui trabalhar na Beneficência Portuguesa, de onde saí quando me aposentei. Na igreja, sempre participei da celebrações, fui catequista, Filha de Maria (onde fiz o voto de permanecer solteira), membro da Legião de Maria e ministra extraordinária da Eucaristia”, completa ela.

Zuleika, após algum tempo retornou: “Se não voltamos pelo amor, acabamos voltando pela dor. Sofri muito por uma situação complicada em que vivia meu filho adolescente.

devotos3Um dia, no desespero, ajoelhei no banheiro onde trabalhava e pedi a Nossa Senhora do Sagrado Coração por ele, pois eu não tinha mais o que fazer. Ao sair tocou o telefone e uma tia que mora no interior pedia para mandá-lo para lá. Graças a Nossa Senhora do Sagrado Coração e a esta tida ele se recuperou e está ótimo. Este foi o maior milagre que recebi e serei eternamente grata. Fui membro das Filhas de Maria também, e hoje participo da Legião de Maria, Apostolado da Oração, Irmandade de São Benedito e sou Ministra Extraordinária da Eucaristia e Sacristã na comunidade São José, conclui ela muito emocionada.

Miguel Mota


Viver a fé com simplicidade – D. Deolinda e Sr. Adalberto

É a segunda vez que entrevistamos um casal que sempre participou das missas em nosso santuário, embora não tenha exercido funções pastorais:

“Nós nos casamos em 29 de setembro de 1962. Desde, então, frequentamos as missas, aos domingos, aqui no santuário, especialmente as das 7h30”, conta dona Deolinda de Barros Costa Roiz com a concordância de seu esposo Sr. Adalberto Roiz que acrescenta “trabalhei por 26 anos na fábrica de borracha do Grupo Rolex, no Tatuapé.

Na época do Pe. Almir Miranda (pároco de 1994 a 1998), por ser ferramenteiro, foi me solicitado e fiz alguns arranjos para a igreja. Inclusive um grande balão que foi usado em algumas celebrações e procissões, foi feito por mim”.

Como a maioria dos que participaram deste espaço do jornal, também eles não são paulistanos: “Nasci em Araçatuba, interior de São Paulo, em 1940. Aos 12 anos vim, com meus pais, para São Paulo, e enquanto trabalhavam, para não ficar na rua, minha mãe colocou-me para trabalhar no salão de cabeleireira da dona Maria. Eu arrumava o local e levava o filho dela na escola, e ela me ensinou a trabalhar como manicure. Fiquei com ela até os 14 anos quando fui com minha mãe para a tecelagem, onde fiquei por pouco tempo e, em seguida, fui trabalhar com dona Rosa, novamente em um salão de cabeleireira, quem foi, para mim, minha terceira mãe, pois a se-gunda foi minha avó. Trabalhei com ela até me casar”, lembra ela. “E eu nasci em Dourados, também interior de São Paulo. Em 1945 mudamo-nos para São Carlos. Lá tentei a carreira de jogador, jogando no Bandeirante, São Carlense e, posteriormente, na Ferroviária de Araraquara. Porém, devido a contusões, especialmente no joelho, não pude continuar. Em 1958 vim morar em São Paulo, aqui próximo em Santa Izabel, na casa de uma tia e fazia tratamento no joelho. Depois tentei a carreira militar, Agulhas Negras, e também não deu certo” completa ele.

Conheceram-se por volta de 1958. Após um tempo de namoro, começaram a construção da casa onde moram até hoje: “O pai dela tinha um bar e o salão onde ela trabalhava era perto.

Próximo dali eu ia sempre engraxar meus sapatos. A gente se via e logo começamos a namorar. Em pouco tempo, aos finais de semana, eu e alguns parentes dela e amigos vínhamos a pé para construir a casa. Por sinal, toda vez que passava em frente à igreja sentia necessidade de entrar ao menos um pouquinho. Sempre me lembrava do tempo que fui coroinha em minha cidade”, relembra ele. Eu de quando em vez vinha também. A  Av. Renata não era asfaltada e havia uma muita poeira, além da lama quando chovia. Aqui na Av. Vereador Aber Ferreira, só havia uma pequena ponte para passarmos sobre o riozinho. Ajudaram na construção aqui o tio Ciro e a tia Cida (que também foram nossos padrinhos de casamento), meu cunhado Dorvalino Pessuto (na época, ainda namorado de minha irmã e acolheu meu marido como a um irmão), Tio Luiz, pedreiro, e tio Alcides pintor…” rememora ela..

Com a construção pronta, logo se casaram: “casamo-nos em 1962, na igreja Santa Izabel. Para chegar aqui era tão ruim que até o caminhão que trouxe nossos presentes ficou atolado e com muita dificuldade conseguir atravessar o riozinho da atual Av. Vereador Abel Ferreira. No final de semana seguinte começamos a participar das missas aqui no santuário e nunca mais deixamos de ir às missas daqui. Sempre colaboramos com o dízimo e com as doações para as festas da padroeira. Nunca deixamos, também, de participar das procissões.

Nossas filhas, Elizabeth e Margareth, e nossos netos Anderson e Katherine participaram da catequese e crisma aqui. Já recebemos muitas graças pela intercessão Nossa Senhora do Sagrado Coração”, conta ela.

Para finalizar, o Sr. Adalberto relembra um fato da infância que atribui ser um milagre ainda esta vivo:

“Houve um período de epidemia de tifo. Minha mãe e eu ficamos doente. Naquela época, quem apresentava os sintomas tinha de ir para um local público (isolamento) e aguardar a possível cura e então voltar para a casa. Como meu pai conhecia um médico, pediu para ele não denunciar, apenas dizer o que ele tinha de fazer para nos ajudar. Ele, então, exigiu isolamento e pouca alimentação. Infeliz-mente fomos piorando e o médico ficando preocupado. Diante do desespero, meu pai não vendo outra alternativa, resolveu, conta própria, fazer uma sopa de galinha e nos dar.

Dias depois o médico se surpreendeu com nossa recuperação e perguntou o que meu pai havia feito. Ele simplesmente disse que havia nos alimentado melhor…” conclui emocionado…

As fotos são do arquivo da família.

Miguel Mota


Um casal mariano

Apenas para não fugir da maioria de nossas entrevistas, hoje conheceremos um pouco mais um casal que veio lá das Minas Gerais, portanto, também não é paulistano: “Nasci em junho de 1941, em Vila do Morro, distrito de São Francisco, cidade do norte de Minas.

Vim para São Paulo 1959, então com 18 anos, e fui morar na Vila Mariana”, conta o senhor Raimundo Vieira do Nascimento. “Eu nasci em Cláudio, mais para o sul de Minas, em julho de 1949. Aos 13 anos, em 1962 minha mãe me chamou e me disse ‘você vai para São Paulo, com uma amiga’. Em pouco tempo desembarquei também na Vila Mariana, e fui morar e trabalhar numa casa de família” lembra a senhora Inês Maria Azevedo do Nascimento.

Embora seja comum a muitos jovens vir para a cidade grande e diminuir sua frequência na igreja, não foi o que aconteceu com eles:

“Eu vim e voltei algumas vezes. Numa delas, inclusive, trouxe meu irmão então com 14 anos. Mas desde o início me falaram de uma igreja próxima e comecei a frequentá-la. Tinha missa de manhã e futebol à tarde. Fui, inclusive membro da congregação mariana” rememora ele. “Eu sempre ia à igreja. Afinal, como era muito nova, era o único lugar permitido e a única oportunidade de sair um pouco da casa onde morava e trabalhava. Logo me tornei membro das “Filhas de Maria. A propósito, foi nesta Igreja, Nossa Senhora da Saúde, na Av. Domingos de Morais, que nos conhecemos”, relembra ela, sorrindo…

A igreja, então, tornou-se o local de encontro: “Ele sempre falava comigo, porém dizia que sobre namoro somente daria a resposta de depois de completar 18 anos.

E assim aconteceu. E a gente sempre “brigou”, tanto que uma vez eu o deixei muito bravo. Estávamos na igreja e ele já  tinha muitos cabelos brancos. Então comentei: ‘coitados de nossos filhos.

Quando crescerem vão olhar para você e perguntar, vovô cadê o papai…’ conta ela com a concordância dele e gargalhadas dos dois…

Como conheceram Nossa Senhora do Sagrado Coração? “Eu ouvia sempre o programa na rádio Excelsior do jornalista Manoel Victor e ele sempre nos convidava para conhecer o Santuário dela em Vila Formosa. Eu trabalhei em diversos lugares e num deles tive de vir trazer uma entrega aqui por perto.

Foi então que conheci esta bela igreja e comecei a frequentá-la”, conta ele, inclusive imitando a voz do jornalista…

Com a maioridade dela, começaram o namoro e logo se casaram: “casamos em 1970, na igreja Nossa Senhora da Saúde. Eu já trabalhava há algum tempo na casa de outra família. Esta não queria que eu mudasse e então fomos morar num quarto dos fundos. Aos poucos compramos um terreno e começamos a construir aqui no Quarto Centenário. Quando engravidei tive até de esconder, por um tempo, pois a família certamente não me deixaria trabalhar mais. Inclusive queriam que continuássemos lá, mas preferimos vir para nossa casa.

Em 1976 viemos morar aqui no Jd. Vila Formosa, onde já tínhamos um pequeno comércio. Desde que mudamos nunca deixamos de participar das missas aqui no Santuário… rememora ela sempre com a concordância dele.

Em pouco tempo começaram intensa participação na comunidade: “certa vez o Pe. Victório aproximou-se de nós e foi direto ao assunto: “vamos comer uma pizza”? ficamos surpresos, afinal era a primeira vez que um padre falava assim com a gente. E aí não paramos mais. Participamos do Coral (missas das 16h30), participamos do Mutirão, em 1978, em Itapetininga, interior de São Paulo e em 1979 participamos do Encontro de Casais com Cristo. Em pouco tempo fomos convidados a participar do Ministério Extraordinário da Eucaristia, do Curso de Noivos, Fraternidade Leiga dos Missionários do Sagrado Coração do qual fomos um dos primeiros…” contam eles. “Enquanto foi possível fui também ministro extraordinário do Batismo e do Matrimônio, como também da Pastoral da Escuta, completa Raimundo.

Chegaram na Vila Mariana, frequentaram a igreja Nossa Senhora da Saúde e Nossa Senhora do Sagrado Coração… “somos devotos de Nossa Senhora. Temos muito a agradecer a ela. A igreja para nós um porto seguro. Quando tínhamos o comércio, perdemos a conta de quantas vezes fomos assaltados. Graças a Deus e a ela nunca nos aconteceu nada. Numa das vezes dormimos normalmente e ao levantar encontramos a porta somente encostada. Entrei e vi que alguns produtos foram roubados. Subi e percebi que haviam mexido em minha carteira.

Levaram apenas o dinheiro e deixaram os documentos. Também não entraram em nosso quarto nem no de nossas filhas…” contam emocionados. “Temos muitas graças alcançadas que não tem como contar todas. Para mim foi uma grande graça conseguir perder 20 quilos sem qualquer medicação. Estava com problemas seríssimos de saúde por causa da obesidade e a diabetes estava muito alta. Tomava insulina 3 vezes ao dia. Hoje não uso mais… conclui ela, emocionada.

 

 

 

 

 

 

Miguel Mota


Encontro de casais mudou nossa participação na igreja

A maioria da população brasileira se diz católica. Uma boa parte frequenta as missas. “Nós sempre fomos a missa. Nunca deixamos de ir. Inclusive quando nos casamos, em 12 de junho de 1954, no domingo seguinte já estávamos participando das missas novamente, agora como casados. Somente após participarmos do encontro de casais, em 1983, é que começamos a exercer alguma atividade: primeiro ajudando nas quermesses, especialmente na barraca da fogazza, e nos encontros de casais e FORMAR. Depois como ministros da eucaristia”, contam o casal senhor João Joaquim Parolina e senhora Leonilda Tegge Parolina.

Com exceção do último entrevistado desta coluna, também eles vieram do interior: “Nasci em Piracicaba em 1928. Na década de 1940 resolvemos mudar. Primeiro fomos para a cidade vizinha, Santa Bárbara do O’este onde moramos por volta de um ano e meio.

Porém, devido a idade militar um de meus irmãos, veio para a capital para possível convocação para guerra. Graças a Deus isto não aconteceu. Certo veio até o Belém e viu um caminhão vindo para Vila Formosa. Embarcou nele e encontrou uma casa para alugar na Rua Osvaldo, atual Alves de Almeida. Pouco tempo depois foi nos buscar.

Apenas minha irmã caçula ficou lá no interior. No início éramos 14 pessoas morando nesta casa e somente o que foi nos buscar trabalhava”, rememora emocionado o Sr. João.

Ela também veio de um pouco mais longe: “Nasci em Bareri em 1931, próximo a Ribeirão Preto. Pouco depois  viemos para São Paulo e fomos morar na Casa Verde. Eu não conhecia aqui.

Somente depois de casada é que comecei a ir à missa no santuário. Era muito difícil de chegar.

Quando da colocação dos sinos, o carrilhão, em 1951, uma amiga minha e eu tentamos vir. Mas não conseguimos, pois a fila era enorme para pegar condução e quase impossível chegar até aqui de tanta gente”, relembra dona Leonilda.

A infra-estrutura era precária: “Quando cheguei, não havia asfalto por aqui. Somente a partir da Álvaro Ramos. Usávamos lamparina para iluminar. Água encanada não havia também. Nosso primeiro contato com Nossa Senhora do Sagrado Coração foi por meio de uma correspondência que minha mãe recebeu em Piracicaba para participar de uma campanha em vista da construção do Santuário. Para nossa surpresa, viemos morar exatamente ao lado deste Santuário. Por sinal, quando chegamos continuamos participando das campa-nhas. Primeiro íamos à missa na capelinha na praça onde hoje é o banco Bradesco.

Com a construção da primeira parte do santuário as missas passaram a ser celebradas aqui. Por sinal, onde hoje é a praça Sampaio Vidal, era um morro onde sempre havia um parque ou um circo. Eles se alternavam como única atração de lazer para nós” conta com saudade o Sr. João.

Diante das dificuldades, com tanta gente chegando ao mesmo tempo, não faltou ajuda de amigos: “pouco depois de nossa chegada, com tanta gente em casa, começamos a trabalhar numa serraria. Era um serviço muito pesado. Logo depois o Sr. Germano, pai do Seu Elias (que já foi entrevista nesta coluna) arrumou emprego para nós em um empresa de fundição que fazia torneiras. Fazíamos a modelagem delas na terra. Tanto que faz pouco tempo que elas são polidas por dentro e por fora.

Até pouco tempo isso não era possível. Ela ficava cheia de areia e depois do metal liquido solidificar batíamos para soltar a areia misturada com óleo que estava dentro. Depois fui trabalhar numa fábrica de tecelagem, na rua Catumbi. Foi lá que nos conhecemos e depois nos casamos. Depois de aposentado, ainda trabalhei profissionalmente, por cerca de 20 anos na casa paroquial”, relembra o Sr. João.

Há pouco tempo devido a idade e a saúde, não exercem mais o ministério extraordinário da Eucaristia: “infelizmente não podemos mais continuar com o ministério. Mas não deixamos de ir à missa.

Para nós é inesquecível a coroação papal em 1954. Era tanta gente e tanto carro que não havia mais lugar para estacionamento. Também não esquecemos da grande graça que Nossa Senhora do Sagrado Coração nos concedeu que é a construção desta casa que moramos.

Apesar de sempre ganhar o suficiente para vivermos, conseguimos isto e educar nossas três filhas: Isabel, Sandra e Selma” finalizam emocionados.

As fotos são do arquivo da família.

Miguel Mota


Escoteiro do Senhor

Em 1938, um ano antes da fundação da paróquia de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Vila Formosa, nascia no Vale do Paraíba, em Cruzeiro (SP), o quinto filho do casal Luiz Evaristo de Souza e Benedita Poiares de Souza João Bosco de Souza. Os pais moravam em um oratório de Dom Bosco: “isto me influenciou, pois ainda menino, aos seis anos, já era coroinha e sabia muitas orações, em latim, de cor”.

Aos nove anos entra na Escola Agrícola dos Salesianos e pouco depois foi para o seminário de Lavrinhas: “neste período meus pais já tinham se mudado para São Paulo e moravam próximo da capela, hoje paróquia Santa Isabel. Mesmo no seminário, eles me mandavam santinhos e novenas de Nossa Senhora do Sagrado Coração”.

No início da década 1950, a família mudou-se e veio morar próxima ao Santuário. Vindo a uma das missas recebe um convite do Pe. Francisco Jansen: “hei, jovem! Você quer ser legionário? Te espero no próximo sábado à noite”. No sábado seguinte logo no início da reunião do praesidium Nossa Senhora da Anunciação, o mesmo Pe. Chico interroga e nomeia: “você sabe ler? Você sabe escrever? Então você vai ser o secretário”. “Até hoje rezo, diariamente, o rosário e a catena.

Raríssimas vezes isto não me é possível”.

Em 1959 o Pe. José Passos funda o grupo de escoteiros São José, de Vila Formosa. João Bosco ajuda na coordenação. Porém, pouco de-pois assume a coordenação do grupo devido a transferência do Pe. José Passos: “os escoteiros se reuniam sempre. Ajudávamos na recepção dos romeiros, fazíamos campanhas como a do agasalho e em algumas outras atividades do Santuário. Este grupo de escoteiro comemorou 50 anos de existência, no ano de 2009”. Aos 20 anos de idade casou-se com Cecy Alves de Souza, com quem teve 4 filhos.

No início da década de 1990 começa, com outras pessoas, a se aprofundar na reflexão bíblico-teológica. Poucos anos depois iniciaram-se, na arquidiocese, os ministérios leigos: “Não segui na vida sacerdotal, porém, Deus proporcionou que eu trabalhasse próximo ao altar. Além de ministro do Matrimônio e do Batismo, coordeno o grupo de acólitos há cerca de 18 anos e me sinto muito lisonjeado quando exerço a função de cerimoniário”.

Em 1994 ficou viúvo. Mas não esmoreceu e se manteve perseverante nos trabalhos pastorais.
Dois anos depois casou-se com Elizabeth Lago de Souza com quem sempre vemos participando das mais diversas atividades do Santuário, especialmente as ligadas ao sacramento do matrimônio, como curso de noivos, além das celebrações eucarísticas aos domingos, às 18h.

Miguel Mota


Milagre? Eu voltar vivo da guerra!

Ele, o pai, nasceu no interior, ela, a filha, aqui próximo, no Belém: “Nasci em 1923, em Xavantes, no interior do São Paulo. Logo que atingi a maioridade fui convocado para ser combatente na Segunda Guerra Mundial. Na Itália, vivi horrores. Inclusive fiquei sob corpos de amigos mortos para continuar vivo. Apenas ouvia o barulho das balas passando. A cada combate, agradecia a Deus e a Nossa Senhora por estar vivo, além de rogar seu perdão. Ao final da guerra, voltei para Xavantes e logo me casei com Carmela Russo Viccioli e em seguida viemos para São Paulo capital”, relembra, emocionado, o senhor Ricardo Viccioli.

“Eu nasci em 1947, aqui na capital, no bairro do Belém. Pouco depois meu pai comprou este lote onde sempre moramos. Desde que chegamos nunca deixamos de participar das missas no Santuário de  Nossa Senhora do Sagrado Coração”, complementa dona Odete Vicioli Muniz.

Sempre participaram das atividades da comunidade, mas nunca como lideranças: “nunca deixei de participar da missa das 7h30, dos domingos. No início não havia asfalto. A gente pegava uma trilha até a igreja. Quando chovia, o barro ou a lama não nos impedia, apenas arregaçávamos as calças para não sujar. Por muitos anos fui membro da Liga Católica. Porém, devido a idade e a saúde há algum tempo tenho ido apenas as missas”, conta, saudosamente, o Sr. Ricardo.

“Eu fiz a primeira eucaristia aqui no santuário. Participei da Cruzada Infantil e do Grupo das Virgens, nas décadas de 1950 e 1960. Minha mãe sempre participou do Apostolado da Oração. Todo domingo vamos à missa das 7h30. Meu pai acorda por volta das 4h e não dorme mais com medo de perder missa”, acrescenta dona Odete, com saudade e sorrindo…

 

 

 

 

 

 

 

Momentos marcantes? Muitos: “A gente sempre participou das quermesses e das festas anuais. As mais marcantes foram as de 1953, por ocasião do quarto centenário da cidade de São Paulo e a de 1954 por ocasião da coro-ação papal. Recebemos muitas graças por meio de Nossa Senhora do Sagrado Coração, sendo duas bem marcantes.

A primeira quando eu tinha por volta de 20 anos. Uma prima muito querida faleceu e eu entrei em depressão.

Nem me alimentar conseguia. Um dia entrei na igreja e rezei aos pés de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

Cheguei em casa feliz e sorridente e minha mãe perguntou: ‘O que houve, viu o passarinho verde?’, ao que respondi: não, mãe, vi Nossa Senhora do Sagrado Coração”. A segunda foi há pouco anos. Meu pai saiu daqui com minha irmã e meu irmão rumo ao hospital do servidor para realizar uma cirurgia. Os médicos já haviam alertado que era de altíssimo risco. Logo que saíram comecei a rezar e pedir a Nossa Senhora do Sagrado Coração. Eles chegaram lá e o médico disse que devido a uma greve que estava começando a cirurgia não seria realizada e ele seria tratado por meio de medicamentos. Ele se recuperou e não houve necessidade mais da cirurgia”, finaliza emocionada dona Odete.

As fotos são do arquivo da família.

Miguel Mota


Nossa vida é repleta de graças!

Como temos acompanhado, ainda não encontramos uma pessoa que tenha nascido aqui na Vila Formosa e acompanhado a construção de nosso santuário: “Nasci 1927, em Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo, e no início da década de 1940 vim para São Paulo com meus irmãos mais velhos. Moramos um ano, mais ou menos, no Belém”, conta dona Albertina Cutieri. “Eu vim poucos depois, juntamente com meus pais e os outros irmãos e moramos próximo à igreja Santa Izabel. Depois meu pai vendeu a chácara lá no interior e comprou aqui e moramos até hoje”, acrescenta dona Teresa Conceição Carneiro.

A participação na igreja começou ainda no interior: “Desde criança já levava as vizinhas para a igreja. Ao chegar aqui logo começamosa participar das Filhas de Maria. Ajudamos muito nas campanhas para a construção do Santuário, especialmente da ‘Dei um terço para Nossa Senhora’. Havia participação de muita gente e o apoio, pela rádio, do senhor Manuel Victor foi muito importante”, contam elas com saudade… “O então Irmão Afonso, que depois se tornou padre, organizou um grupo de meninas e logo me colocou como coordenadora”, complementa dona Teresa.

Conciliar o trabalho doméstico com a igreja nem sempre é fácil: “depois que me casei com Delfim (Delfim Pinto Carneiro), vieram os filhos. Meu tempo ficou reduzido, afinal foram oito. Então, normalmente só podia ir à missa. Mas o Delfim nunca deixou de participar. Nossa convivência com os padres foi tão forte que sempre digo que eles foram muito importantes na educação de nossos filhos. Somente muitos anos depois pude colaborar com algum trabalho como no movimento de casais, quermesses (barraca da alimentação) e fui catequista até 1995”, rememora dona Teresa…

Alguns trabalhos são mais “escondidos” e, portanto, nem sempre aparecem: “por muito tempo visitei e levei comunhão aos doentes. Eu ia à missa todos os dias. Mas hoje a saúde não me permite e então assisto pela TV quando não consigo ir. Fui coordenadora do Grupo de Rua, participei a Legião de Maria e do Apostolado da Oração. Por alguns anos ia toda semana nos velórios do cemitério de Vila Formosa rezar com as famílias e oferecer algum conforto espiritual por meio da “Pastoral da Esperança”, conta dona Albertina,  pausadamente…

Ao serem perguntadas sobre as melhores lembranças, não têm dúvidas: “a bênção papal, as campanhas para a construção da igreja, as procissões e romarias, são inesquecíveis. Houve um tempo em que tínhamos “as flores de maio”: cada dia uma família oferecia flores e carregava o andor. Por muito tempo, também, quando o andor era recebido pelos seminaristas cantando o Lembrai-vos.

Era lindo demais ouvir eles cantando ‘oh, lembrai-vos, vós virgem mãe de bonança….’.” relembram elas emocionadas…

São muitas as graças alcançadas, mas uma é especial: “uma sobrinha, Vanda, vinha sempre aqui. Tinha por volta de seis anos. Todas as casas tinham poço artesiano. As crianças estavam brincando e o Delfimzinho, meu filho, veio correndo e disse que a Vanda havia caído no poço da casa de meu pai. Eu não podia fazer nada.

Estava com o Sérgio no colo. Apenas saí e vi meu irmão, Antonio, e falei para ele. Ele correu e logo havia muita gente e volta do poço. Como trabalhava em caminhão, foi fácil pegar uma corda e por ela um senhor desceu e trouxe ela de volta. Graças a Nossa Senhora do Sagrado Coração ela caiu junto com uma tábua e ficou por cima. Senão teria acontecido o pior, pois o poço era muito fundo.

Meu medo era como contar para a família dela. Mas também graças a Nossa Senhora do Sagrado Coração, ela foi muito compreensiva”, conta dona Teresa agradecida e a conclui “esta é uma das muitas, inumeráveis graças que alcancei graças a Nossa Senhora do Sagrado Coração”.

As fotos são do arquivo da família.

Miguel Mota


Eterna devota de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Bem no meio do século passado, quando São Paulo não era ainda uma metrópole, nascia a nossa entrevistada deste mês: “Nasci na Moóca, em 1950. Porém, com dois anos vim com meus pais para a Vila Formosa. Depois, praticamente, não saí mais daqui”. Conta Edna Mathias.

Vila Formosa estava em formação e o Santuário também: “Eu frequento a comunidade desde o ventre de minha mãe. Embora morássemos em outro Bairro, meus pais sempre frequentaram aqui. Fui batizada em Aparecida, mas todos os outros sacramentos recebi aqui. Inclusive, numa das procissões me perdi. O Pe. Francisco Jansen pegou-me no colo e perguntava ‘quem são os pais desta criança?’,” rememora ela.

Na medida que o tempo passava, aumentava, também, seu envolvimento e participação na comunidade: “fui estudar no Externato Nossa Senhora do Sagrado Coração a partir do segundo ano. Em seguida participei do movimento das virgens, das cruzadas (na qual permaneci até a recepção das fitas amarelas), Filhas de Maria, liturgia (comentarista da missa das 16h30) e Grupo de Jovens. Normalmente eu ia em duas missas, de manhã, às 10h30 e a das 16h30. Na primeira íamos mais para nos encontrar com os jovens e namorar. À tarde, não. Ia para participar mesmo, afinal, eu era comentarista”, relembra sorrindo…

Apenas por um breve tempo deixou de residir em Vila Formosa: “Quando me casei fomos morar próximo ao Parque São Lucas, mas não deixamos de frequentar a igreja daqui. Foram apenas 18 meses. Infelizmente, após um acidente automobilístico, na Fernão Dias, próximo a Mairiporã, meu marido faleceu. Desde então retornei para cá e não saí mais. Este acontecimento me fez sofrer demais. Procurei o então pároco, Pe. Vitório, e disse-lhe que meu maior medo era perder a fé. Ele e os outros padres, especialmente o Pe. Ricardo (hoje Dom Ricardo, bispo de Pinheiro-MA) me apoiaram muito e me incentivaram a participar do encontro de casais, para o qual já estávamos inscritos. Não só participei como continuei com os trabalhos da comunidade. Sempre agradeço a Nossa Senhora do Sagrado Coração por tantas graças alcançadas”, rememora…

Na década de sessenta tornou-se catequista e teve de deixar logo após o casamento: “Em meados da década de 1980, com a chegada do Pe. Bertasi (já nos conhecíamos desde quando era ela seminarista), fui convidada a retornar à catequese. Posteriormente, com o Pe. Almir, tornei-me coordenadora. Com a chegada do Pe. Jorge, deixei novamente a catequese e comecei a exercer o ministério extraordinário da eucaristia, no qual estou até hoje. Ainda no período Pe. Bertasi, fui uma das coordenadoras da “Escola da Fé”. Quando do assentamento em Porto Feliz, fomos o primeiro grupo a organizar donativos e levamos um caminhão cheio para lá. Participei, também do Grupo de Teatro e por quatro anos acompanhei o Pe. Agenor durante o tratamento que fez de hemodiálise. Nos últimos anos participei da criação da pastoral da Criança aqui no Santuário e da Pastoral do Menor na paróquia São Benedito. No ano passado, acompanhei um grupo de catequese de adultos”, conta ela.

Finalmente relembra sua participação nas procissões e quermesses: “Antigamente, as procissões vinham da Água Rasa. O Sr. Delfim (falecido no mês passado e uma pessoa que muito contribuiu para nossa comunidade) nos preparava para encontrar com ela próximo à igreja São Benedito. A praça Sampaio Vida ainda não existia como a conhecemos hoje. Era um morro e ainda não tinha sido “cortado”. Onde hoje é a capela de vela, ficava o altar e nós ocupávamos a frente da igreja, inclusive as ruas. As quermesses aconteciam onde hoje é o seminário (onde era o Externato) e o estacionamento. A lojinha era nossa cozinha. A primeira vez que foi colocada a barraca de milho verde, a panela de pressão explodiu…”. conta sorrindo…

Miguel Mota



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