Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração

Vila Formosa - São Paulo - Brasil

Aprendi a amar a nossa Igreja – Santuário, meu lar

“O Santuário não é um prolongamento da minha casa. A minha casa é que é o prolongamento do Santuário”

Nascido na pequena cidade de Passos, sul de Minas Gerais, ainda muito criança, juntamente com a família, mudou-se para São Paulo: “eu nasci em 1942. Em 1950, com oito anos, viemos para São Paulo. Ao chegarmos fomos morar na rua Pedro Pires, na Vila Carrão. Pouco mais de um ano depois viemos para Vila Formosa e não me mudei mais de bairro”, conta Adão Cândido Pereira.

A mudança trouxe-o para mais perto do Santuário: “viemos morar na rua Salvador do Vale. Mas por muitos anos apenas vinha na missa. Não participava de nenhuma pastoral. Nem da catequese, pois em Minas, mesmo pequenos, já éramos catequisados. Também muito cedo, devido a morte de meu pai, tive de assumir responsabilidades na família. Então, ainda criança, vinha ajudar na lavagem da padaria (a mesma que ainda hoje localiza-se na esquina da João XXIII com a Av. Renata) todos os finais de semana, além de trabalhar como “caixeiro” ou balconista”, relembra Adão.

Apesar de chegar em 1950 acompanhou a finalização da construção do santuário: “como criança e adolescente, vi a construção do Santuário. Conversava muito com o Pe. Chico (Francisco Jansen). Vez ou outra e nos dava uma moeda de 500 réis e ficávamos felizes. Eu ia logo ao bar, colocava a moeda no balcão e pedia ‘dá tudo isso em bala’. O dono do bar pegava um vidro, destampava, e começava a contar. Ao final eu ficava muito feliz, pois pegava um punhadão de bala. A gente brincava muito, também na frente da igreja. Como não era cimentado, após a escada virava uma lama quando chovia até a Av. Renata. Usávamos tábuas e descíamos deslizando até lá” rememora sorrindo…

Adão lembra os nomes, de cor, de todos os párocos e da maioria dos vigários: “Aprendi, ainda em Minas, que, em sinal de respeito, temos de beijar as mãos do padre. Acho que é isso que até hoje não me acostumo com este jeito moderno de algumas pessoas tratar os padres. Porém, sempre gostei de conversar com eles. Apesar de somente frequentar as missas e, algumas vezes, as quermesses que aconteciam aqui a frente da igreja” comenta ele.

No início da década de 1980 tudo mudou. “Minha vida mudou. Digo mais, aqui aconteceu minha verdadeira conversão. Até então eu só vinha na missa e me sentava sempre do meio para traz. Foi então que participei do Encontro de Casais e, na quinta-feira seguinte aconteceu o reencontro. Neste comecei a ser incentivado/motivado pelo mestre Delfim. A partir daí sempre participei ativamente do mais diversos movimentos/pastorais de nosso Santuário. Primeiro como acólito (sou até hoje), depois como catequista (até 1994), pastoral familiar, liturgia, enfermos, curso de noivos. Apenas para citar, em um determinado momento, não me lembro exatamente o ano, tínhamos uma comissão organizadora coordenada pelo casal Inês e Raimundo. Eu era responsável pelo arquivo. Chegamos a ter cerca de 3.800 casais listados que se colocaram a disposição e sabíamos que poderíamos contar com eles quando precisarmos”, conta demonstrando ar vitorioso com tantas realizações e com quantas pessoas teve a oportunidade de trabalhar…

 

 

 

 

 

Lembra com muito carinho um ministério que exerceu até há pouco tempo: “em 1992, após participar, juntamente com um grupo, de um curso preparatório com duração de dois anos e sete meses, exerci o ministério extraordinário do matrimônio e do batismo. O último dia de preparação foi acompanhado por Dom Paulo Evaristo Arns, então nosso arcebispo e cardeal. Além destes trabalhos, na quermesse fui o churrasqueiro por 9 anos e desde a época do Pe. Agenor contribuo com a segurança dos eventos. Mas outra atividade de que me orgulho muito em participar é da fraternidade de Nossa Senhora do Sagrado Coração. esposa, Geny Maria de Jesus Pereira, e eu fomos convidados pelo Pe. Bertasi em 1994 e desde então somos participantes dela” comenta agradecido.

Finalmente, relembra que profissionalmente por muitos anos foi militar, trabalhando inclusive na segurança pessoal de diversas autoridades estaduais e federais, entre outras: “certa vez um colega militar me viu como acólito aqui no santuário.

Ao retornar para o quartel contou para todo mundo que ‘o sargento Adão anda de saia e virou padre’.

Pronto! Todo mundo, inclusive os de patente superiores, trocaram-me de patente e lá passei a ser chamado de ‘padre Adão’, relembra sorrindo… e conclui

“gosto de ser igreja. Gosto de ser católico!”

Miguel Mota


Dona Aparecida Maurício – 97 anos – Uma devota centenária

Numa então pequena cidade do interior de São Paulo, a pouco mais de 200 quilômetros da capital, nasceu dona Aparecida Maurício: “Nasci em São Carlos. Mas vivi pouco tempo lá. Depois nos mudamos para Araraquara, Matão, …, até parar em Taquaritinga. Estou com 97 anos. Nasci no dia 04 de janeiro. Só não me pergunte o ano…” conta sorrindo e tentando lembrar o ano em que nasceu.

Ainda no interior, passou por situações difíceis e perigosa: “desde muito pequena comecei a trabalhar. Assim, casei-me logo e continuamos morando no interior. Certa vez, indo para olaria, deparei-me com uma cobra sucuri. Eu saí correndo e gritando muito. Francisco veio e meu socorro e atirou nela. Ela esticou de um lado e eu desmaiei do outro. A partir de então, sempre tinha crise e desmaiava”, relembra, ainda com um pouco de medo…

Na década de 1930, mudaram para São Paulo: “quando chegamos aqui, fomos morar na Av. Renata. Começamos a freqüentar as missas na hoje praça Sampaio Vida, numa garagem. O Santuário ainda não existia”, comenta olhando para cima e buscando outros detalhes…

Nunca deixou de participar das atividades da igreja: “participei por 53 anos do Apostolado da Oração. Nunca perdi uma reunião. Também participei da Legião de Maria, mas foi por pouco tempo, pois tive de deixar para cuidar de um de meus filhos. Trabalhei muito tempo, também, na quermesse” rememora tentando lembrar os períodos de cada participação…

Sempre participou das missas: “Eu ia na missa todo dia. Ou melhor, toda noite, porque de dia eu tinha de trabalhar. Durante 20 anos eu ajudei a fazer a coleta. Meu marido sempre reclamava e, às vezes, até dizia ‘por que não leva a cama para lá e já dome por lá também?’. Anos depois ele se converteu e participou ativamente da “Convenção dos homens” e da Liga Católica. Nesta sempre carregava o estandarte de Jesus, Maria e José”, relembra saudosamente…

A devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração começou pouco tempo depois de ter chegado em Vila Formosa: “E conheci esta imagem aqui. Um dia eu estava com na igreja e o Pe. Francisco chegou. Naquela época o imagem ainda ficava embaixo e podíamos tocá-la. Contei a ele o meu problema: o desmaio. Ele na hora me respondeu: ‘escreva seu nome completo e coloque aos pés desta santa”. Fiz isto e nunca mais desmaiei. Foi esta santa maravilhosa quem me curou”, rememora emocionada…

Hoje não é possível participar. Mas vez outra dá um jeito de ir até o santuário: “eu tenho uma neta que sempre me leva para cima e para baixo. Como não posso sair, então rezo em casa mesmo: Assisto a missa da Rede Vida e ouço a bênção no rádio e rezo três terço por dia. Quando podia eu sempre participava de romarias para Itu, Aparecida, São Roque, Pirapora, e, claro, das festas e romarias daqui. Destas não perdia uma”, conta emocionada e se sentindo realizada…

Como frequenta o santuário desde o início, tem um orgulho: “eu sei nome de todos os padres que por aqui passaram. A maioria vinha sempre em minha casa. O Pe. Bertasi, por exemplo, vinha aqui e pegava no pé da minha filha por ela ser fumante. Passava um tempinho, ele saía até a porta e acendia o cigarro dele. Ela via e vinha falar com ele ‘tá vendo, fala de mim e fuma também’. Ele colocava as mãos na cabeça, fazia de desentendido e dava aquela gargalhada característica dele” conta sorrindo…

Finalmente, aos 97 anos de idade diz que tem dois defeitos que pretende superá-los ainda: “não tenho muita paciência, calma. Também acho que falo demais”…

Miguel Mota


Dona Nair Mirandola Missionária há mais de cinco décadas

Assim como em nossa edição anterior, coincidentemente, é da diocese de Lins, interior de São Paulo a nossa entrevistada deste mês: “Nasci em Getulina, a quase 500 quilômetros da capital paulista, em 1941. Desde pequena participo da igreja: quando criança, da Cruzadinha e como adolescente, das Filhas de Maria”, conta-nos dona Nair Mirandola.

Apesar do incentivo dos pais, não estudou muito: “estudei até a admissão, o que seria, talvez, o 5º ano atualmente. Não estudei mais devido à distância, pois tinha de ficar na casa de um tio. Pouco depois mudei para Lins e comecei a trabalhar. Na loja, conheci Manoel Martins Neto, irmão de minha patroa, com o qual me casei tempos depois”, relembra ela.

Manoel era natural de Taquaritinga, também interior de São Paulo. “Casamos em agosto de 1958, em Lins. Pouco depois, em dezembro, mudamo-nos para São Paulo e fomos morar na Vila Olinda (Vila Formosa). Depois mudamos para a rua Montemagno e estou aqui até hoje”, rememora pausadamente como que contando os anos…

A viagem foi longa e cansativa: “viemos de trem. Com uns bancos duros, que só. Depois pegamos um taxi até aqui. No dia seguinte, o primeiro lugar que visitamos foi a igreja de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Sempre fomos muito religiosos. Até então conhecíamos esta devoção apenas de nome. A partir de então freqüentarmos sempre o santuário, especialmente participando das missas das 6h da manhã, aos domingos”, conta ela com olhar longínquo e saudoso…

Logo que chegaram, trataram de reiniciar a vida. “Meu marido comprou um salãozinho, próximo da esquina da rua Angá com a Eduardo Cotching. Lá fizemos uma quitanda. Ele saía de madrugada para comprar as frutas, verduras e legumes no mercadão. Pouco depois colocamos doces à venda, também. Normalmente vendíamos mais que as padarias, pois ali era caminho dos alunos que saíam do Externato Nossa Senhora do Sagrado Coração”. Relembra com saudades e conclui dizendo que o marido falecera em 1990.

Logo que os vicentinos instituíram as sacolas de natal, participaram ativamente: “Meu marido normalmente enchia 5 ou mais sacolas e levava para a igreja. Porém, quando comecei a participar da liturgia, ele, no início, repetia ‘não vai que você vai fazer feio’.” Relembra sorrindo.

Um fato que a marcou foi um acidente sofrido pelo filho mais velho. “Aconteceu na Via Dutra. Ele estava parado no acostamento e uma carreta bateu no veículo. Ele caiu numa ribanceira. Quando nos avisaram, ele já estava no hospital. Ao chegarmos, o médico nos comunicou a perna dele seria amputada, pois estava em péssimo estado. Naquele momento chorei muito. Porém, vi, na sala do médico, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Como sou muito devota de Nossa Senhora, rezei mais ainda. Cerca de 10 dias depois, o médico disse que por falta de recursos, não poderia fazer a amputação. Porém, perceberam que era possível colocar algumas placas. Considero isto um milagre, pois ele ainda viveu mais 20 anos conosco, normalmente. Infelizmente, quando faleceu foi vítima do câncer”, rememora e revive entre lágrimas, saudades e agradecimentos…

Após o falecimento do marido, intensificou ainda mais sua participação na igreja. “Há muitos anos participo da equipe de liturgia das 7h30, dos domingos; dos grupos de rua; da Legião de Maria, que já fui até presidente; dos vicentinos, na conferência são Francisco Xavier; e do Apostolado da Oração, do qual sou coordenadora atualmente”, enumera entusiasmada.

Finaliza com saudades de alguns momentos: “as procissões eram lindas. Íamos até a Água Rasa, devagar e em fila dupla. Havia as Filhas de Maria, os anjos, muitos cartazes”… A filha, Adriana, acrescenta: “tenho muita saudade da quermesse quando acontecia em frente à igreja…”. E dona Nair acrescenta: “há mais de 30 anos que coordeno a barraca de doces. E sempre arrecadamos quase tudo para a barraca”. Relembram, enfim, que sempre tiveram visitas dos padres: Agenor, Sebastião, Almir, Jorge e Valdeci, para citar alguns.

Miguel Mota


Elias Carnevali – missionário desde a infância

As romarias ainda estavam em seu início. As celebrações ainda aconteciam na capela provisória: “Nasci em Taquaritinga, uma pequena cidade do interior de São Paulo, próximo a Araraquara. Eu era muito pequeno quando viemos para a capital. Moramos por cerca de um ano na Vila Mariana e depois nos mudamos para Vila Formosa”, conta Elias Carnevali, que nasceu em março de 1943.

Desde o início aprender a freqüentar a igreja e as celebrações: “meu pai era vicentino lá no interior. Quando viemos para cá, ele ajudou na construção do Santuário. Eu me lembro de quando era bem pequeno que ele me colocava em seus ombros para eu ver o altar e as pessoas na igrejinha que tinha na Sampaio Vidal”, rememora ele.

Poucos anos depois começou a participar com mais frequência: “participei da segunda turma do Externato Nossa Senhora do Sagrado Coração.

Logo no início fui preparado e recebi a primeira eucaristia. Porém, fui realmente catequizado pelo Irmão Afonso (que muitos anos depois ordenou-se padre) nos encontros que tínhamos de preparação para participar das celebrações como coroinha. Desde então ajudei nas mais diversas celebrações, inclusive na coroação papal, em 1954, com a presença do Núncio Apostólico”, relembra o seu Elias.

Acompanhou desde o início a construção do templo: “moramos por muito tempo na rua Carlito. Nós, crianças, gostávamos de brincar nos montes de areia e pela construção. Lembro-me, inclusive da inauguração da primeira parte do Santuário. Uma parte era separada da que estava em construção por telhas de amianto. Lembro-me também que as ruas não eram asfaltadas e comprávamos numa “quitanda” usando uma caderneta. Os acertos, normalmente eram mensais.

Não podia faltar querosene, pois não havia energia elétrica. Mas não tenho nenhuma foto de todo o período. Até hoje não adquiri o hábito de registrar e/ou guardar fotos”, conta sorrindo…

Participou de diversas pastorais e movimentos: “Pouco depois de completar 18 anos comecei a participar da Legião de Maria: Praesidium Nossa Senhora da Paz, presidido pelo prof. Aguiar Iazzetti. Algumas vezes, vindo do exército, não dava tempo de ir para casa e então participava uniformizado mesmo. Lembro também que no início, as orações eram todas em latim e não tínhamos acesso à Bíblia. Somente após o Concílio Vaticano II isto foi melhorado”, conta pensativo.

Com a juventude, aparecem outras preocupações. Como todo jovem daquele período procurou participar de atividades sócio-políticas: “Nós organizamos, aqui, o Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Vila Formosa. Em seguida conseguimos eleger um deputado e com o apoio dele obtivemos outras conquistas como a emancipação do Bairro de Vila Formosa (antes era dependente do Tatuapé), como primeiro resultado tivemos o Cartório do Registro Civil eu funciona até hoje; ampliação do saneamento básico; asfaltamento das principais ruas e avenidas; prolongamento da linha dos tróleibus da Água Rasa até Vila Formosa. A inauguração deste último contou até com a participação do prefeito e do governador”, relembra com entusiasmo…

Faz questão de lembrar que normalmente contava com apoio dos padres: “O Círculo tinha apoio especialmente do Pe. Cornélio. Nas reuniões do patrícios contávamos com o apoio do Pe. Batista, que inclusive ajudou na fundação da Liga Católica.

Onde hoje funciona os vicentinos, nós instalamos uma ‘cooperativa de consumo’. Por muito tempo ela foi útil aos moradores. Somente deixou de existir com o aparecimento dos supermercados”, conta ele.

Por alguns anos, deixou de freqüentar o santuário: “eu participava mais do movimento dos cursilhos da cristandade. Alguns encontros aconteciam na Chácara Flora, próximo a Congonhas.

Inclusive o Pe. Agenor Cardin era diretor espiritual, também. Frequentava, também, a escola da fé no Colégio Santa Catarina, na Mooca. Posteriormente me casei e por cerca de 6 anos moramos em São Bernardo Campo. Mas todos os finais de semana estávamos aqui.

Íamos embora sempre depois da missa das 18h”, relembra seu Elias. Voltou para a Vila Formosa e desde então tornou-se ministro extraordinário do Matrimônio e do batismo. Ministérios que exerceu até este ano, pois a Arquidiocese não mais está renovando.

Continua ajudando muito na catequese de adultos, na pastoral do dízimo e da Esperança. Esta última consiste em participar e coordenar as orações das exéquias no cemitério da Vila Formosa.

Finalmente, faz questão de lembrar que o movimento dos cursilhos, do qual participava, fundou o “Lar Santa Margarida”, onde acolheram 10 crianças da antiga Febem e acompanharam até completarem 18 anos. Há alguns anos esta instituição, com suas instalações, foi doada para as irmãs Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração”, finaliza ele.

Miguel Mota


Dona Lourdes – Devota à primeira vista. Conheça sua história!

Os missionários do Sagrado Coração celebram cem anos de presença missionária no Brasil. Uma das regiões em que foram pioneiros, é a região de Bauru e Lins, a cerca de 450 quilômetros da capital paulista. “Eu nasci em Lins, interior de São Paulo, em 1934. No início da década de 1950, viemos para São Paulo: minha mãe, Cândida Maria do Nascimento e seus seis filhos. Chegamos e fomos morar na rua Carlito”, conta dona Maria de Lourdes Henrique.

A devoção a Nossa Senhora do Sagrado Coração nasceu ainda em Lins: “Pouco antes de mudarmos, um padre levou uma nova imagem de Nossa Senhora à Igreja. Minha mãe gostou demais dela. Porém, ficou muito triste e até chorou, pois mal a conheceu e já ia deixá-la por estar de viagem marcada” relembra dona Lourdes.

A viagem foi longa e um pouco demorada. Uma surpresa aguardava pela família: “Ao chegarmos em Vila Formosa, em 1952, combinamos, com a senhora que iria nos acolher, de nos encontrar na igreja. Minha mãe ficou emocionadíssima ao entrar na igreja e notar que esta era a igreja principal, da imagem de Nossa Senhora que havia conhecido e deixado no interior. Desde então nunca deixamos de freqüentar e participar dos trabalhos do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração” conta, emocionada…

Ela já participava ativamente Santuário 71 anos Devota à primeira vista dos trabalhos da igreja lá no interior. Então deu continuidade aqui: “Minha participava do apostolado e continuou. Eu participava do ‘grupo das virgens’ e das ‘Filhas de Maria’, e também continuei aqui. Também nunca deixamos de ajudar nas quermesses. Contamos muito com apoio dos padres Francisco, João, Alberto e do ainda irmão Afonso”, rememora ela.

Lembra com muitas saudades das grandes romarias que vinham nas festas da padroeira, especialmente das procissões e dos carros alegóricos. Entretanto, sempre ajudou na barraca dos coelhinhos: “foi nesta que conheci meu marido, Anésio Henrique. Numa das festas ele me conheceu e nunca mais nos separamos. Ele morava em Suzano. Vez ou outra ele reclamava de eu ir cuidar desta barraca. E eu dizia que graças a ela que ele havíamos nos conhecido. E ele respondia: ‘eles é que são os culpados…’.” conta sorrindo… Além dos grupos anteriores, participou, também de outros: “fui membro do coral coordenado pelo Pe. Francisco e pelo senhor Darci.

Depois ingressei no Apostolado da Oração e na Legião de Maria. Desde então participo destes além da equipe de liturgia das celebrações das 7h30 dos domingos e de ser ministra da eucaristia”.

Como ministra, ao levar a eucaristia aos doentes, enfrenta um sério problema: “tenho muito medo de gato. Quando era criança, com cerca de 10, eu já trabalhava. Todos começamos a trabalhar cedo devido ao meu pai ser muito doente.

Um dia um dos filhos de meus patrões me convidou para dar um coro no gato. Fechamos o quarto e começamos. Logo ele, furioso, grudou as garras na garganta do menino. Ele, aos gritos, pediu-me para abrir a porta. Ao abri-la o gato desapareceu e nunca mais voltou. Os pais dele perguntavam pelo gato e não dizíamos nada.

Porém, como infeccionou tivemos de contar a verdade e ele foi levado ao hospital. Desde então, morro de medo de gato. E passei isso para as minhas filhas. Então, se vou visitar um doente, já pergunto se tem gato. Se tiver, já aviso que terei dificuldades em ir…” conta com sorriso meio medroso… Finalmente, relembra das dificuldades pouco depois de chegarem aqui: “trabalhávamos na Guilherme Giorgi. Íamos a pé pelas trilhas e normalmente havia muito barro. Ultimamente participei de alguma ordenações, do Pe. Valmir em Ponte Serrada (SC) e do Pe. Júlio, em Marmelópolis (MG).

Naquela passei muito frio e nesta muito medo devido ao barro na estrada e a dificuldade do ônibus em seguir viagem. Mas a do Pe. Arturo foi mais complicada, pois viajamos 24 horas para ir e outras 24 para voltar.

Pouco depois ele saiu e se casou. Aí eu disse: tanto sacrifício para quê…” relembra sorrindo.

Miguel Mota.


Sr. Edgar – Missionário itinerante – ajudou em muitas igrejas

Nascido numa pequena cidade do sul de Minas Gerais, por depois começou a itinerância: Nasci em Sacramento-MG, em 1924. Com o falecimento de meu pai, logo nos mudamos para Franca, interior de São Paulo. Lá comecei a participar da comunidade cristã, relembra ele como que contando os anos…”.

Mais alguns anos nova mudança: “em 1948 mudamos para São Paulo. Fomos morar na vila Antonina. Lá tinha uma capelinha. Resolvemos  ampliá-la e construímos uma igreja bem maior, hoje conhecida como “São Vicente Pallotti”, conta com orgulho.

Na região havia poucos moradores e logo a violência também se manifestava de maneira forte: “Havia muito mato por aqui. O cemitério da 4ª Parada era bem menor. Numa parte, próximo à Av. Salim Maluf havia uma cocheira onde ficavam os burros. Para alimentá-los muitas vezes vínhamos buscar capim aqui onde hoje é o cemitério de Vila Formosa. Havia um local no Aricanduva que era ótimo para nadar… Mas a partir da década de 1970 tudo mudou. Boa parte da região tornou-se perigosa e muito violenta”, rememora com ar de saudades…

Desde o início participou de celebrações no Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração. “Eu vinha sempre na missa aqui no Santuário. Mas não participava de pastoral aqui. Gostava muito de vir na missa das 6h da manhã. Havia muitas procissões. Os homens saiam de lugar, normalmente da Praça Sampaio Vidal e as mulheres da “praça do bom coco”. Em seguida voltávamos para a Praça Sampaio Vidal”… Ao menos dois momentos não se esquece: “No início da década de 1960 juntamente com Matilde participamos do curso de noivos.

Em 1962 nos casamos juntamente com outros 18 casais com seus respectivos padrinhos e madrinhas, cerca de 38”, relembra olhando para o alto como se o tempo pudesse ser lido… Por aqui ajudou em diversas igrejas: “Trabalhei como tesoureiro da igreja São Vicente Pallotti, congregado mariano e legionário. Ajudei ainda na Igreja Nossa Senhora Aparecida.

Nas décadas de 1960 e 1970 participei muito dos encontros de casais (o nosso primeiro foi o 15º Encontro de Casais com Cristo” e nos últimos 12 anos apenas aqui no santuário como Ministro da Eucaristia, na equipe de festas, entre outros”…  Momento marcante foram os encontros de casais: “Todo final de semana nos reuníamos no Escolasticado, então seminário dos padres onde hoje é o colégio Externato Nossa Senhora do Sagrado Coração.

Conheci os padres Milton e Bertasi ainda seminaristas. Muito nos ajudou o Pe. Ricardo, hoje bispo de Pinheiro-MA….” conta emocionado.

Ao final faz questão de lembrar: “Lá no início participei também da Liga Católica Jesus Maria e José…


Miguel Mota


participação em uma romaria ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, na década de 60


Crescemos e vivemos próximas ao Santuário, conta D. Durvalina

Neste mês conheceremos a história de duas irmãs que desde a década de 1930 vivem próximas ao Santuário. Ela nos recebeu com muita alegria e a entrevista transcorreu recheada de muitas gargalhadas. “Nasci em Mogi Mirim, interior de São Paulo, em 1927. Seis meses depois nos mudamos e viemos morar em São Paulo, no Braz”, conta Dona Durvalina Gomes Valério. Eu nasci em 1932, no Braz. Em 1934, viemos para Vila Formosa, próximo ao Arouca”. Completa dona Aparecida Gomes Miquelino.

É muito bom e interessante conversar com elas sobre o início do Bairro. “Papai perdeu a na revolução constitucionalista de 1932. Foi reformado e pouco depois veio conhecer os terrenos oferecidos aqui. Ele desconjurou.

Somente com a insistência de mamãe é que ele comprou”, relembram elas, sorrindo. Os pais eram católicos. A vinda para a Vila, em 1934, tomaram contato com os padres Missionários do Sagrado Coração. “O Pe. Pedro sempre nos levava para passear, especialmente no convento das irmãs beneditinas. E no seminário também”, contam elas. O bairro ainda não existia.

Havia muito mato e pasto: “A gente gostava de sair por aí. Mas havia muitas vacas. Do nada saíam de trás de algum mato e tínhamos de correr delas. Haviam touros que eram muito bravos também”, rememoram às gargalhadas… Onde hoje é o cemitério havia muitas frutas: “a gente ia sempre lá apanhar especialmente pitanga. Mas era muito vazio por aqui também. Havia pouca gente. Quando aparecia alguém, ficávamos aliviadas: Que bom, lá vem alguém. Totalmente o contrário de hoje, dependendo do lugar, se vemos alguém vindo em nossa direção, já ficamos com medo, pois não sabemos quem é e o que poderá fazer… relembram e lamentam elas…

Lembram de Dona Geralda e Dona Linda como animadoras na igreja. “No início íamos sempre à missa na igrejinha. Depois na atual Igreja. Minha irmã não quer falar, mas ela (d. Durvalina) foi a primeira noiva a se casar no santuário”, conta dona Aparecida, sorrindo… “E só havia a parte da frente. A de trás ainda estava em construção”, complementa dona Durvalina, às gargalhadas… Sentem muitas saudades das procissões. Especialmente das do dia da festa. “Participamos muitas vezes com vestidos vermelhos e ‘arquinhos’ feitos de samambaia”, rememoram… Da quermesse gostavam muito de participar. “Porém sempre queríamos uma bonecona que era sorteada. Nosso pai participava do sorteio, mas nunca ganhava. Tinha outra possibilidade também, cada vez que íamos à missa, ganhávamos, dos padres, uns “bilhetes” que poderíamos trocar por presentes no final do ano. A gente juntava para trocar pela “bonecona”. Mas ao chegar o dia, nossos irmãos nunca iam à missa e tínhamos de repartir com eles. Senão eles choravam por ficar sem presentes… nós reclamávamos, mas não tinha jeito e ficávamos sem a bonecona de novo”, contam às gargalhadas mas demonstrando que ainda hoje lamentam não ter ganho a “bonecona”… Um fato que também não se esquecem é relacionado a uma imagem do Menino Jesus: toda vez que se colocava uma moeda, ele se movimentava agradecendo… nem sempre tínhamos moedas, então, nós, as crianças, colocávamos pedrinhas só para ver ele se mexer e agradecer. Na missa seguinte o padre reclamava:

Quem está colocando pedrinhas no menino Jesus?! Nós sempre dizíamos que não éramos nós”, confessam agora, sem controlar os risos… Como andavam muito por aí, o pai controlava pelo medo: “ele nos dizia que não podíamos ir para o lado de onde hoje é a Guilherme Giorgio por que lá havia uma coruja muito grande. Até que um dia ele nos levou por lá. Estávamos com muito medo, mas ele insistiu. Quando escutamos a coruja cantar já ficamos com medo. Mas ele insistiu novamente. E quando vimos o tamanho da coruja ficamos bravas, com raiva de termos sido enganadas tanto tempo”…

D. Aparecida: Formatura do 2º Escolar de Vila Formosa, em 30/11/1946.
Foto tirada em frente da então capela que havia na hoje praça Sampaio Vidal.


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